CAMADA DE OZONO

A 16 de Setembro de 1987 dá-se um acontecimento histórico: 27 países subscrevem, após um longo período negocial, o Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Empobrecem a Camada de Ozono. A partir daí aberto a adesões, que logo se multiplicaram, este acordo enfrentava, pela primeira vez, um dos elementos da «crise ecológica global».
Hoje pode dizer-se que foi, é, uma história de relativo sucesso. Talvez a prova de que conhecimento científico actualizado e vontade política assente numa consciência planetária podem fazer «milagres». Ou servir de exemplo para outras necessidades urgentes do mesmo tipo. O antigo secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse do Protocolo que «talvez seja o mais bem sucedido acordo internacional de todos os tempos».
Bem, mas o que é a camada de ozono? Porque é tão fundamental a sua saúde? Que ameaças sofre?
O ozono é uma simples combinação entre três moléculas do oxigénio que, na estratosfera da Terra, nos protege dos raios mais perigosos do Sol.
O ozono é produzido a baixas altitudes, migrando para a alta atmosfera. Cerca de 90% do ozono atmosférico concentra-se em camada, entre 16 e 30 km de altitude. Cerca de 20 km de espessura, em média, constituem a «ozonosfera».
Como se sabe, as radiações electromagnéticas emitidas pelo Sol trazem energia para a Terra, incluindo a radiação infravermelha, a luz visível e um misto de radiações e partículas, muitas delas nocivas. Parte dessas energias são absorvidas pela ozonosfera e remetidas de novo para o espaço— sem essa defesa a Terra ficaria estéril e a vida não poderia ter-se desenvolvido como de facto aconteceu. A parte de radiações que «passa» pela camada de ozono é sobretudo benéfica para os seres vivos, permitindo a existência das condições de vida actuais.
Em 1972 o químico Thomas Midgley inventou os clorofluorcarbonos— ou CFCs— para substituir os gases potencialmente explosivos e tóxicos usados sobretudo nos aparelhos de refrigeração. A ideia pareceu excelente, uma inovação prometedora e benéfica, além de barata, logo abraçada pela indústria. Milhões e milhões de frigoríficos e aparelhos de ar condicionado saíam das fábricas todos os anos, deixando contentes consumidores e empresas.
Já nos anos 70 os satélites norte-americanos começaram a detectar problemas na camada de ozono, ainda longe do gigantesco buraco que mais tarde haveria de alarmar o mundo inteiro.
Os cientistas Scherwood Rowland e Mário Molina, depois premiados com o Prémio Nobel pelos seus trabalhos de Química atmosférica, criaram a teoria de que os CFC, ao elevarem-se até aos níveis superiores da atmosfera, têm as suas moléculas divididas pela acção solar, libertando cloreto para a camada de ozono e iniciando um complexa acção em cadeia. Segundo eles, o cloro misturado com o ozono na superfície gelada na estratosfera e atingido pela luz do Sol, literalmente devorava essa epiderme delicada e protectora, deixando passar livremente os raios ultravioletas.

O Protocolo de Montreal exigiu cortes substanciais na emissão desse gases, 50% na fase inicial e as suas sucessivas revisões— em 1990, 92, 95, 97 e 99 foram acrescentando novas metas e mais substâncias perigosas para a camada de ozono a incluir nos cronogramas de eliminação.
O sucesso foi rápido— o alarme das opiniões públicas e o consenso científico aceleraram a execução de medidas de substituição das substâncias lesivas por outras, tendo sido criado em 92 um Fundo Multilateral para apoio financeiro aos países menos desenvolvidos na substituição tecnológica.
A camada de ozono dá agora alguns tímidos sinais de recuperação e o buraco de ozono sobre o pólo Sul parece já não estar a crescer tanto. Mas os estragos manter-se-ão por muitas décadas, não se sabe quantas. Ironia trágica, a civilização do lazer tem como símbolo a praia e o « bronzeado», moda que os médicos hoje acusam de ser responsável pelo crescimento exponencial dos cancros de pele…e não sem motivo, ainda para mais com a fragilização da camada de ozono.

Quando eliminamos um frigorífico velho, ou outro aparelho contendo os tais gases lesivos, sem os cuidados necessários, estamos a libertar CFCs para a atmosfera, por exemplo. A ameaça ainda subsiste e se o pior passou, convém que reconheçamos que temos sido «aprendizes de feiticeiros» no tocante à nossa arrogante relação com a Terra…

Não se deve confundir a destruição da camada de ozono com o fenómeno das alterações climáticas. São coisas diferentes. Não é a entrada «sem filtro» das radiações que causa o «efeito de estufa» cuja origem é outra e tem a ver com a retenção do calor na superfície da Terra por excessivo crescimento de certos gases, como o dióxido de carbono e o metano na atmosfera.
Mas há uma relação mais subtil: O aquecimento global, aumenta a temperatura da baixa atmosfera mas arrefece a estratosfera, o que pode tornar mais intensa a perda de ozono estratosférico e assim prejudicar a sua lenta recuperação.

Em todo o caso— deseja-se que a mesma determinação global para salvar a camada de ozono possa ser usada no combate à ameaça mundial das mudanças climáticas! Enquanto é tempo!

Bernardino Guimarães