terça-feira, março 31, 2009

SUSTENTABILIDADE

foto de Raízes.e.Asas

Neste ano de todas as crises, procuram-se saídas, tacteiam-se caminhos, anunciam-se respostas. Das mais clássicas às mais inovadoras, as medidas visam atenuar os efeitos de uma depressão económica profunda e generalizada. Os impactes são já visíveis, traduzindo-se em desemprego e falta de confiança. Ninguém parece conhecer a origem e o alcance da crise. Como se a primeira vítima desta situação fosse a arrogância e auto-suficiência dos «gurus» económicos e mentores dos dogmas que fizeram a chuva e o bom tempo nas últimas décadas. Daria vontade de rir, se não fossem trágicas as consequências, a releitura de muito do que se disse e escreveu nos «anos de expansão», sobre a inapelável supremacia do ultraliberalismo e da economia financeira especulativa como suporte da globalização, essa «maravilha fatal da nossa idade».
Desacreditados os mestres e as previsões, vem à memória a frase que diz: «a guerra é um assunto demasiado importante para ser deixado apenas aos generais». A economia também tem importância que aconselha que não a deixemos só nas mãos dos economistas!
Existem respostas «ambientalistas» para a saída da crise? Onde estão esses contributos necessários?
Se considerarmos que a crise económica é apenas uma parte, ou se quisermos a ponta mais visível de uma crise global onde avulta a crise ecológica, então faz sentido e é urgente que as medidas para a ultrapassagem desta fase depressiva incluam, com prioridade, alterações de fundo que possam apontar soluções realmente positivas. Aproveitar a oportunidade para mudar o paradigma energético e a dependência dos combustíveis fósseis. Criar empregos na diminuição das emissões de gases que causam as alterações climáticas. Recriar os modelos urbanos, trocando crescimento por qualidade e equilíbrio. Mudar o sistema fiscal, deixando de penalizar tanto o trabalho e o investimento e agravando o consumo excessivo e a poluição. A verdade é que convém poupar, não o trabalho e a criatividade, mas sim os recursos naturais que não são inesgotáveis.
O Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP) recomendou aos países do G20 que dedicassem 1% do seu Produto à «redução da dependência do petróleo e outras energias fósseis» e ao combate «às ameaças iminentes que são as mudanças climáticas, a insegurança energética, a crescente penúria de água doce, a deterioração dos ecossistemas e acima de tudo a pobreza que alastra no mundo».
Isto porque, diz a UNEP, «relançar a economia mundial é essencial, mas medidas centradas apenas nesse objectivo não garantirão um sucesso durável.»
Uma «economia verde» depois da crise? Seria a aplicação do princípio da sustentabilidade, conceito tão maltratado, que quer dizer desenvolvimento que «satisfaça as necessidades do presente sem comprometer as necessidades e o bem-estar das gerações futuras».
Apontar saídas para a crise deve ser, apostar nas tecnologias que induzam poupança de recursos naturais, reabilitação urbana e valorização da paisagem e da biodiversidade, eficiência energética, energias renováveis e mobilidade sustentável, onde muitos empregos podem ser criados, e nunca na construção de mais 2000 km de auto-estradas como quer o nosso governo, imbuído no construtivismo retrógrado que cria riqueza aparente e efémera.
Importa perceber como é que este dilema se resolve em termos da região do Porto e como será possível animar a economia transformando-a e reorientando os seus objectivos para que seja mais humana…e mais ecológica!
A apresentação, pela autarquia da Invicta, da «Estratégia para a Sustentabilidade da Cidade do Porto» deve ser analisada neste contexto. Fica para próxima crónica.

Bernardino Guimarães
( em Jornal de Notícias, Março 2009)

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