Falcão-peregrino no olhar inspirado e na obra do artista José Projecto. Com os meus agradecimentos.
«Projéctil vivo» dizia dele o saudoso Félix Rodriguez de La Fuente, que sabia de aves de rapina e as amava. O ser mais rápido do mundo, chegando a atingir os 300 km/hora ou ainda mais nos seus espectaculares voos picados.
O falcão-peregrino (Falco peregrinus) — é dele que falamos— deve o seu nome aos hábitos nómadas e às suas peregrinações errantes, sobretudo na fase adolescente. Uma parte das populações desta espécies é migradora, como as que vivem no norte da Europa e da América do Norte, que chegam a percorrer até 14.500 km na sua jornada entre os locais de nidificação e de invernada.
Foi sempre a ave preferida para a prática da arte ancestral da falcoaria, ou altanaria como por cá se diz, aperfeiçoada pelos Árabes e pelos europeus medievos. Considerado ave «nobre» durante muitos séculos, adorno da nobreza e das suas proezas venatórias e de adestramento, nem isso o livrou de, modernamente, ficar às portas do extermínio devido à captura ilegal e perseguição ignorante dos caçadores, mas sobretudo por causa do envenenamento letal e silencioso por pesticidas como o DDT, hoje proibido, que torna estéreis os falcões-peregrinos, situados no topo da cadeia alimentar que acumula o veneno.
É possível encontrar esta ave de porte médio (40-52 cm de comprimento, 85-110 cm de envergadura, a fêmea é marcadamente maior e mais pesada que o macho.) em quase todo o mundo, excepto na Antárctida. Desde os desertos até à tundra árctica, das savanas africanas aos pampas argentinos, dos campos cerealíferos ibéricos às estepes asiáticas, esta «jóia viva» (outra vez La Fuente) prefere sempre os campos abertos para caçar, frequentando as zonas húmidas e os vales e evitando as grandes massas florestais. Para nidificar escolhe quase sempre os alcantilados das falésias no litoral e as encostas montanhosas. Captura praticamente apenas aves, em cuja caça em voo é porventura o maior especialista da Natureza.
Existem até 20 subespécies, ou raças locais de falcão-peregrino (a estimativa varia consoante os ornitólogos) na sua vastíssima distribuição geográfica. Na Península Ibérica nidifica a subespécie mediterrânica brookei mas no Inverno ocorrem muitos indivíduos das populações do Norte da Europa, mais corpulentos e migradores.
Como escreveu Pedro Vaz Pinto: «de todos os predadores alados, provavelmente nenhum combinará de uma forma tão notável, um tão elevado grau de especialização, uma tão grande beleza e capacidades de voo tão extraordinárias como o falcão-peregrino».
Os Egípcios antigos associavam-no ao Deus Horus (cujos olhos são os do Peregrino) e na Idade Média europeia o seu preço era elevadíssimo, chegando a sua posse a ser apenas permitida à mais alta nobreza.
A presa de eleição do peregrino é o pombo, em especial o pombo-das-rochas (Columba livia) na sua forma silvestre e doméstica.
Citando ainda Vaz Pinto: «uma das suas estratégias de caça consiste em subir nas correntes de ar quente (térmicas) a grande altura, por vezes a mais de 1500 metros acima do nível do solo, deixando-se então cair sobre a presa avistada, num ângulo mais ou menos pronunciado e por vezes em queda livre vertical, com as asas aerodinamicamente coladas ao corpo, e controlando magistralmente a sua velocidade, quer abrandando ligeiramente com as asas entreabertas quer acelerando ainda mais com a ajuda de curtos e rápidos batimentos de asas. O voo picado do falcão-peregrino constitui sem dúvida uma das proezas mais extraordinárias do mundo animal, e quem teve o privilégio de assistir a tal espectáculo jamais o esquecerá.»
Em Portugal o falcão-peregrino é classificado como «Vulnerável» no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. (ICNB) O cálculo mais recente aponta para cerca de 100 casais no nosso país, assinalando-se uma ligeira recuperação em relação a anteriores estimativas, melhoria no entanto posta em causa pela pilhagem de ninhos levada a cabo por traficantes sem escrúpulos e abate ilegal, além da destruição dos habitats favoráveis pelo avanço dos empreendimentos turístico/imobiliários e construção de estradas, entre outros factores.
Bernardino Guimarães
«Projéctil vivo» dizia dele o saudoso Félix Rodriguez de La Fuente, que sabia de aves de rapina e as amava. O ser mais rápido do mundo, chegando a atingir os 300 km/hora ou ainda mais nos seus espectaculares voos picados.
O falcão-peregrino (Falco peregrinus) — é dele que falamos— deve o seu nome aos hábitos nómadas e às suas peregrinações errantes, sobretudo na fase adolescente. Uma parte das populações desta espécies é migradora, como as que vivem no norte da Europa e da América do Norte, que chegam a percorrer até 14.500 km na sua jornada entre os locais de nidificação e de invernada.
Foi sempre a ave preferida para a prática da arte ancestral da falcoaria, ou altanaria como por cá se diz, aperfeiçoada pelos Árabes e pelos europeus medievos. Considerado ave «nobre» durante muitos séculos, adorno da nobreza e das suas proezas venatórias e de adestramento, nem isso o livrou de, modernamente, ficar às portas do extermínio devido à captura ilegal e perseguição ignorante dos caçadores, mas sobretudo por causa do envenenamento letal e silencioso por pesticidas como o DDT, hoje proibido, que torna estéreis os falcões-peregrinos, situados no topo da cadeia alimentar que acumula o veneno.
É possível encontrar esta ave de porte médio (40-52 cm de comprimento, 85-110 cm de envergadura, a fêmea é marcadamente maior e mais pesada que o macho.) em quase todo o mundo, excepto na Antárctida. Desde os desertos até à tundra árctica, das savanas africanas aos pampas argentinos, dos campos cerealíferos ibéricos às estepes asiáticas, esta «jóia viva» (outra vez La Fuente) prefere sempre os campos abertos para caçar, frequentando as zonas húmidas e os vales e evitando as grandes massas florestais. Para nidificar escolhe quase sempre os alcantilados das falésias no litoral e as encostas montanhosas. Captura praticamente apenas aves, em cuja caça em voo é porventura o maior especialista da Natureza.
Existem até 20 subespécies, ou raças locais de falcão-peregrino (a estimativa varia consoante os ornitólogos) na sua vastíssima distribuição geográfica. Na Península Ibérica nidifica a subespécie mediterrânica brookei mas no Inverno ocorrem muitos indivíduos das populações do Norte da Europa, mais corpulentos e migradores.
Como escreveu Pedro Vaz Pinto: «de todos os predadores alados, provavelmente nenhum combinará de uma forma tão notável, um tão elevado grau de especialização, uma tão grande beleza e capacidades de voo tão extraordinárias como o falcão-peregrino».
Os Egípcios antigos associavam-no ao Deus Horus (cujos olhos são os do Peregrino) e na Idade Média europeia o seu preço era elevadíssimo, chegando a sua posse a ser apenas permitida à mais alta nobreza.
A presa de eleição do peregrino é o pombo, em especial o pombo-das-rochas (Columba livia) na sua forma silvestre e doméstica.
Citando ainda Vaz Pinto: «uma das suas estratégias de caça consiste em subir nas correntes de ar quente (térmicas) a grande altura, por vezes a mais de 1500 metros acima do nível do solo, deixando-se então cair sobre a presa avistada, num ângulo mais ou menos pronunciado e por vezes em queda livre vertical, com as asas aerodinamicamente coladas ao corpo, e controlando magistralmente a sua velocidade, quer abrandando ligeiramente com as asas entreabertas quer acelerando ainda mais com a ajuda de curtos e rápidos batimentos de asas. O voo picado do falcão-peregrino constitui sem dúvida uma das proezas mais extraordinárias do mundo animal, e quem teve o privilégio de assistir a tal espectáculo jamais o esquecerá.»
Em Portugal o falcão-peregrino é classificado como «Vulnerável» no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. (ICNB) O cálculo mais recente aponta para cerca de 100 casais no nosso país, assinalando-se uma ligeira recuperação em relação a anteriores estimativas, melhoria no entanto posta em causa pela pilhagem de ninhos levada a cabo por traficantes sem escrúpulos e abate ilegal, além da destruição dos habitats favoráveis pelo avanço dos empreendimentos turístico/imobiliários e construção de estradas, entre outros factores.
Bernardino Guimarães
Este é o ser vivo que adoro.
ResponderEliminarPeregrina sempre.