sexta-feira, abril 17, 2009

LIXO CÓSMICO

A nossa espécie, Homo sapiens sapiens (pensante duas vezes segundo a autodesignação científica) não consegue viver sem produzir lixo. Utiliza e transforma recursos naturais de todo o tipo, faz deles bens de consumo, utensílios, aparelhos sofisticados-que, volvido algum tempo, lá se converte em...lixo. Os humanos são peritos na produção de resíduos, e exímios quanto aos que não são degradáveis em processo natural. Isto assegura aos lixos da humana actividade uma existência perene. Um copo de plástico pode durar muitas décadas, materiais há que perduram séculos. Os solos, florestas, desertos, montanhas e vales, as águas, rios e mares, a atmosfera, tudo acumula lixo-e derivados químicos, sólidos ou gasosos, destacando-se coisas tão severas e irredutíveis como as partículas em suspensão no ar, microscópicas e por isso mesmo invisíveis,--ou os metais pesados que contaminam terras e águas demasiadas vezes, com o condão de poderem invadir, via cadeia alimentar, o organismo do seu próprio autor, o Homem, ironia trágica, alguns dirão justiça poética.
Criamos lixo por onde quer que passemos, essa condição parece ser-nos inerente.
Ilustração disso é o lixo espacial, dimensão cósmica do nosso talento inato enquanto poluidores. Os céus, na órbita da Terra, estão cheios de lixo proveniente de satélites e outros objectos da exploração espacial.
Diz a Agência Espacial Europeia ( ESA) que há no espaço, à roda da Terra azul e amável, dezenas, centenas de milhares de « objectos não catalogados» a vogar sem destino.
Lê-se na documentação disponível que « mesmo fragmentos de menos de um milímetro podem viajar a cerca de 14 mil quilómetros/hora, causando danos a satélites, sondas e vaivéns».
A ESA pretende tomar medidas e criou um novo sistema de detecção e uma rede de observação do lixo cósmico. As colisões são frequentes--recentemente , dois satélites ( um americano e outro russo, militar e já desactivado) chocaram com aparato. Os cientistas estão inquietos--já nem o espaço é seguro!
Poe cá, em baixo, é ver como somos...basta-nos olhar para oa rios sujos, poluídos, exangues, sem oxigénio e sem vida. E os resíduos do discurso de alguns políticos, que prometem despolui-los e anunciam planos iguais aos que publicitaram há dez anos--o resultado, ese, é que não varia, zero! Mais vale olhar as estrelas...

Bernardino Guimarães

( Crónica radiofónica, em « Um olhar sobre a cidade» na Antena 1, a 16/4/09

2 comentários:

  1. A triste realidade é que esse homem, citado na crônica, não sabe o significado do "ter"(coisas) e do "ser"(alguém)...e com isso torna - se um materialista apenas.Ao invés de preservar o lugar onde vive, faz dele uma sala desorganizada, não se importando com quem poderá chegar para ocupar o mesmo espaço. Na verdade falta maturidade bastante para entender que só o "ter"(coisas), o leva cada vez mais a uma vida vazia; suas necessidades mudam o tempo todo, pois vive em função disso.Voltando ao "ser"(alguém)...quando esse mesmo homem, aprender através de uma reflexão mais profunda consigo mesmo...que em primeiro lugar, deve reconhecer que é alguém que se ama e pode ter coisas, de uma maneira saudável e consciente e deve preservá - las...aí sim com certeza saberá contemplar a beleza das estrelas e todo o universo sem culpa...
    Gláucia Santos

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  2. Prazer em ouvir ,quem dera, diariamente,as tuas crónicas.
    Esta, como tantas outras,mostra bem um discernimento e compreensão da nossa triste realidade.

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