sábado, maio 23, 2009

CADA VEZ MAIS LIXO

A produção de resíduos domésticos tem aumentado todos os anos no Grande Porto. Esta tendência— que muito provavelmente revela uma situação idêntica no todo nacional— deveria fazer-nos reflectir. Em 2008 foram 519 590 toneladas de lixo, depositadas pelos munícipes e encaminhadas para destino final--maioritariamente a incineração nos fornos da LIPOR, entidade que nos forneceu os números e também o alerta.
Mil toneladas de resíduos não separados dão entrada diariamente na mesma LIPOR, recolhidas pelos serviços dos vários municípios da região metropolitana (não inclui vila Nova de Gaia e Santa Maria da Feira).
Significa isto que pouco ou nada mudou na nossa relação com o que chamamos lixo, isto é, os materiais que sobram do nosso consumo. Se pensarmos que apenas uns 10%, ou menos, dessa quantidade são separadas para reciclagem, e que a separação dos resíduos orgânicos só agora começa a dar os primeiros passos--temos um panorama bastante sombrio e desolador, muito aquém mesmo do cumprimento das directivas europeias a que estamos obrigados.
Com crise ou sem ela, não cessa de aumentar o desperdício que fazemos de recursos naturais— e demora a melhorar a atitude colectiva quanto à reciclagem. Sem Redução (o primeiro dos RRR) escassa Reutilização e pouca Reciclagem, lá se vai a política dos três RRR que o consenso moderno indica ser o caminho adequado. Um fracasso de todos, e das políticas ambientais nesta matéria em Portugal!
Apetece dizer: isto assim não é sustentável.
Do produtor de bens ao distribuidor a ao consumidor, passando pelas autoridades municipais e nacionais, é preciso mudar de vida, e a LIPOR aparece agora a sugerir aos cidadãos uma Carta de Compromisso, iniciativa que convida à assinatura de um documento simbólico online, comprometendo-se a contribuir, através da adopção de uma série de boas práticas, para um futuro mais sustentável— com menos lixo. Mas será isto suficiente?
Longe da vista, longe do coração. Quando nos livramos do que consideramos «lixo», esquecemo-nos dele, outros que o levem, tratem, armazenem, depositem e eliminem de alguma forma. Não é nada connosco.
E quem pensa no que significa em energia gasta, em poluição induzida ao longo de todo o ciclo de vida de um objecto ou produto, em desperdícios de recursos finitos, em necessidade de encontrar soluções, sempre caras e poluentes, para as montanhas de lixo que deixamos para trás, produto de um consumismo que pouco tem de racional?
Não nos ficará mal se pensarmos um pouco no lixo. Na sua origem, destino e impacte. Visão desagradável mas que afinal é nossa criação, nossa responsabilidade. E que de algum modo, gostemos ou não, nos define.
Bernardino Guimarães
(Crónica emitida pela Antena 1 em 21/5/09)

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