terça-feira, maio 26, 2009

NANOTECNOLOGIA

A revolução dos materiais à escala atómica, a exploração física do infinitamente pequeno, abre perspectivas fantásticas, a que a Ciência alude frequentemente. E não se trata de ficção— esse «Admirável Mundo Novo», (com algo preocupante das obras de Orwell e de Aldous Huxley, mas também de Utopia esperançosa!) essa utopia tecnológica convive já connosco.
Um certo discurso «moderno» sempre pronto a louvar os avanços da tecnologia, de um optimismo cândido e apaixonado, glorifica essa revolução dos átomos manipulados a nosso bel-prazer.
Do ínfimo feito revolução tecnológica— talvez a maior de todas, dizem alguns dessa união entre matéria, electrónica e biologia que anuncia ir «pôr a inteligência em tudo o que usamos».
Outros, mais cautelosos, não desdizem as promessas e os avanços, mas preconizam o «princípio da precaução» e enunciam problemas ambientais, sanitários, éticos e sociais que é preciso prever.
Existe aqui um paralelismo evidente com os OGM, que promovem a manipulação da estrutura genética do mundo vivo. As nanotecnologias são, sem ironia, uma espécie de OGM tratando de matéria inerte!
A Comissão Europeia promove um amplo debate, envolvendo cientistas, e outros cidadãos, de modo a estabelecer o «estado da arte» e discutir os problemas a par das vantagens anunciadas. A ONU faz o mesmo.
Mas a vida económica agita-se: a nanociência e as nanotecnologias influenciarão mais a economia mundial do que qualquer outro sector, já no horizonte da 2015.

O princípio básico das nanotecnologias é «a construção de estruturas e novos materiais a partir dos átomos» (tijolos básicos da Natureza). Está já hoje associada a áreas como a medicina, electrónica (electrónica molecular etc), biologia e engenharia de materiais.
A unidade de medida aqui é nanómetro. Para se ter uma ideia do que estamos a falar, diga-se que a sua dimensão equivale a qualquer coisa cerca de 100 000 vezes menor que a espessura de um cabelo humano!
Um dos instrumentos utilizados para a exploração de materiais a essa escala é o microscópio electrónico de varredura (MEV) e o objectivo teórico, com infinitas aplicações práticas, é chegar ao controlo preciso e individual dos átomos.
A palavra nanotecnologia só foi utilizada em 1974, mas o seu precursor foi o físico Richard P. Feynman, que publicou diversos trabalhos sobre o tema.
As nanotecnologias prometem muitas inovações para o futuro, mas já estão entre nós. Em 2006, havia já 700 produtos com componentes nanométricas e 1400 espécies de nanopartículas, vendidas por uns 80 produtores. No mercado, existem já produtos que só foram tornados possíveis com este tipo de tecnologia: por exemplo:
--Tecidos resistentes a manchas e que não amassam;
--Produtos de protecção contra Raios UV;
--Pó anti bacteriano;
--- Nano-cola
-- Cosméticos;
--Sistemas de filtração do ar e da água;
--Microprocessadores e equipamento electrónico em geral;
--Raquetes e bolas de ténis;
Capeamento de vidros e aplicação anti-erosão dos metais;
---Tratamento de herpes e fungos;
--componentes de próteses e implantes ortopédicos, cateteres, válvulas cardíacas;

No futuro próximo, outras aplicações estarão disponíveis.
Existe alguma expectativa quanto ao sector da Energia, porque as nanotecnologias podem facilitar, por exemplo, um melhor e mais eficaz aproveitamento da energia solar: trabalha-se na obtenção do «material mais escuro do mundo», que pode absorver 99,9% de toda a luz que recebe.
Uma frente que inclui a geração de electricidade em termopar semicondutor. Junções semicondutoras podem gerar energia eléctrica, através da luz recebida em células fotovoltaicas e nesse sentido estuda-se converter calor directamente em energia eléctrica através de termopares de nanotecnologias.

Na Medicina espera-se que seja possível, por exemplo, a destruição selectiva e exacta de células cancerígenas, entre outras promessas. Existe o lado sombrio: estamos, já agora, expostos cada vez mais a nanopoluições? Quais as suas consequências? Na saúde e no ambiente?
Ninguém sabe. Não há cálculos oficiais. A euforia tecnológica não dá muito espaço a estudos «pessimistas!»
O perigo maior de nanopoluição gera-se através dos nanomateriais presentes nos produtos, que podem soltar-se para o ar e água sem que seja possível vê-los e durante a sua fabricação. Milhões de trabalhadores correm o risco de serem expostos e absorverem no seu organismo partículas infinitamente pequenas…e provavelmente muito perigosas!
As nanopartículas podem representar perigo porque flutuam facilmente pelo ar, viajando grandes distâncias.
Sabe-se que são capazes de penetrar nas vias respiratórias mas também na pele, a partir daí fica o caminho livre para a penetração nas células até ao seu núcleo, vencendo as membranas consideradas impenetráveis ou alojando-se no sistema nervoso central.
Devido ao seu pequeno tamanho, os nanopoluentes podem entrar nas células dos humanos, dos animais e das plantas. Como, na sua maioria esmagadora, não existem na Natureza, as células não terão os meios apropriados para lidar com eles ou criar resistências, provocando danos ainda desconhecidos. Há o perigo de se acumularem nas cadeias alimentares, como os metais pesados e o DDT.
Outro risco, de tipo ético e social é o perigo de estas tecnologias acabarem por ser também invasivas dos direitos e privacidade de cada cidadão. Se é que o não fazem já— a tentação dos Estados pelo controlo dos movimentos de pessoas através de chips (em Portugal todos os automóveis terão de ter um, segundo lei agora aprovada) e outros instrumentos ultra-miniaturizados e electrónicos, constitui um grave problema que terá de ser dirimido politicamente.
A generalização dos nanochips, através de sistemas como o RFID (Rádio Frequency Identification) traz consigo o pesadelo orweliano da vigilância pelo Grande Irmão/Estado, induzido por preocupações securitárias e outras. Ou o não menos temível da difusão de «poeiras inteligentes» pelos serviços de informação…ou por grupos terroristas, ou ainda concretizando o seu uso bélico em guerras— já que as nanotecnologias desde o início atraíram o interesse dos potentados industriais/militares. Há quem diga que diversos ensaios reais foram já feitos, sobre alvos vivos em operações guerreiras dos últimos anos!
Problema ético considerável é este: o cruzamento das nanotecnologias com a biologia/genética e a medicina poderá trazer o perigo da criação do ser humano «perfeito», com as características que lhe quiserem dar? Essa desumanização não passa por agora de um receio distante de desumanização…
Enfim:
-- As nanotecnologias prometem avanços consideráveis e aquisições importantes; esse facto não deve deixar de lado a vigilância e o debate social sobre os seus perigos actuais e sobre as áreas em que não se deve dirigir a investigação. Pois, ao contrário do que alguns pensam, a Ciência não é neutra, nem se dirige ao acaso na busca deste ou daquele objectivo; pelo contrário, é a sociedade e são os poderes políticos e económicos que a dirigem. Em democracia, os rumos da ciência podem e devem ser questionados…e se necessário reorientados para o «bem comum». Os riscos devem ser escrutinados e analisados, tendo em conta o princípio da precaução. Tal tarefa não pode ser deixada apenas nas mãos do Estado nem das indústrias, antes se deve recorrer a peritos independentes e à sociedade civil.
O medo do progresso e a tentativa de coarctar a ciência trouxe muito mal à Humanidade; o deslumbramento acéfalo e o optimismo beato são igualmente perversos e perigosos.

Importante nesta matéria:
A criação do Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL) cujas instalações estão a ser construídas em Braga— um investimento de 30 milhões de euros. Irá ter 200 investigadores.
http://europa.eu/youth/news/index_1178_pt.html
http://cordis.europa.eu/fp7/ict/micro-nanosystems/home_en.html
http://www.nanoforum.org/index.php?code=d9731321ef4e063ebbee79298fa36f56&userid=14437511
http://www.etcgroup.org/en
http://ec.europa.eu/european_group_ethics/index_en.htm

1 comentário:

  1. As nanotecnologias prometem avanços consideráveis e aquisições importantes;
    A ciência evolui muito no conhecimento desta técnica.

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