domingo, julho 26, 2009

HENRY DAVID THOREAU

Um grande vulto da literatura norte-americana, que é também um símbolo da defesa das virtudes do homem livre face aos poderes e às injustiças e uma fonte permanente de inspiração para os movimentos ambientalistas— falamos de Henry David Thoreau, ensaísta, poeta e memorialista, nascido em 1817 na cidade de Concord, em Massachusetts.
As suas obras ainda hoje fazem dele uma referência fundamental para muitos.
Diz-se que Martin Lhuter King e Mahatma Gandhi encontraram nos trabalhos de Thoreau fontes para a via da não-violência activa, em defesa de ideais libertadores.
A Natureza era, para este escritor, mais do que um passatempo ou cenário para o retemperar de forças. O que marca o percurso de Thoreau é o agudo sentido crítico em relação ao mundo do seu tempo, um século XIX muito cioso das comodidades e vantagens do «progresso» entendido como crescimento contínuo do bem-estar material. Esse sentido de recusa continua a ser actual, como actual é a procura de uma vida despojada das ânsias e escravidões da vida «moderna» --sem que isso queira dizer espírito retrógrado ou opositor da ciência. Mas Thoreau viveu como escreveu, numa coerência que o levou a habitar numa cabana perto do pequeno lago de Walden Pond, numa existência de grande simplicidade onde encontrou o sossego necessário à concepção da que foi a sua obra-prima «Walden ou a vida nos bosques», publicado em 1854—e recentemente editada em Portugal. Um dos maiores vultos da cultura americana é assim, de algum modo a expressão do contrário daquilo que é o lado mais visível do «american way of life» --na sua imagem de desperdício, consumismo e alguma superficialidade.
«Um homem é rico em proporção ao número de coisas que se pode dar ao luxo de não ter» escreveu Thoreau, que viu no progresso reduzido à dimensão económica e quantitativa uma realidade que «produz meios aperfeiçoados para atingir um fim que não se aperfeiçoou».
Naturalista autodidacta, Thoreau registava minuciosamente as suas observações no seu diário. O crescimento das plantas de diferentes espécies, a floração de cores múltiplas, o ruído do vento nas copas da árvores, a chegada das aves migradoras, os murmúrios do lago onde tantas formas de vida coexistem, tudo isso aparece na sua obra, particularmente em «Walden», descrevendo uma vida simples, de trabalho duro e contemplação sábia.
Outro grande escritor e seu amigo, Ralph Waldo Emerson, disse que «era um prazer e um privilégio caminhar com ele. Conhecia os campos como uma raposa ou um pássaro, e como ele atravessava-os livremente por caminhos só dele».
Thoreau explica em «Walden» a sua decisão de abandonar a cidade, mal compreendida por muitos: «Fui para os bosques porque pretendia viver deliberadamente, defrontar-me apenas com os factos essenciais da vida, e ver se podia aprender o que ela tinha a ensinar-me, em vez de descobrir à hora da morte que não tinha vivido.»
Outro facto fundamental na vida e na obra de Henry Thoreau foi a sua passagem pela prisão. O escritor, em revolta contra a escravatura vigente nos EUA e ainda contra a invasão do México, decidiu que face a um governo injusto, que ignorava valores morais essenciais, não podia pagar impostos nem submeter-se a um tal estado de coisas; «com um governo que prende alguém injustamente, o lugar do homem justo é na prisão. A prisão é, num estado esclavagista, o único lugar onde um homem livre pode viver com honra» – escreveu Thoreau.
Libertado após alguns amigos terem pago os seus impostos— contra sua vontade— o escritor deixou esta sua experiência impressa no livro «A Desobediência Civil» uma das obras de Thoreau mais conhecidas e comentadas— também disponível em português.
Morre em 1862. O que escreveu-- e o seu testemunho-- permanece actual, para todos os que amam a integridade do Homem e a harmonia com a Natureza.
Bernardino Guimarães

4 comentários:

  1. Exelente retrato de Thoreau! Minhas congratulações.

    A sutileza de seu texto acompanha a grandeza do ensaísta.

    Att,

    Mara Vanessa

    ResponderEliminar
  2. olá, peregrino:
    criei um blog chamado "lendo walden", com notas de leitura e pesquisas que fiz durante a tradução da obra.
    se quiser visitá-lo, o endereço é http://lendowalden.blogspot.com

    abraço
    denise

    ResponderEliminar
  3. "A Natureza era, para este escritor, mais do que um passatempo ou cenário para o retemperar de forças. O que marca o percurso de Thoreau é o agudo sentido crítico em relação ao mundo do seu tempo, um século XIX muito cioso das comodidades e vantagens do «progresso» entendido como crescimento contínuo do bem-estar material. Esse sentido de recusa continua a ser actual, como actual é a procura de uma vida despojada das ânsias e escravidões da vida «moderna» --sem que isso queira dizer espírito retrógrado ou opositor da ciência."
    Que belo texto e que lição de Vida!

    ResponderEliminar
  4. Neander cortez de melo15 de novembro de 2011 às 06:44

    Grande inpiração pra o tempo chegado foi thoreau...seta apontando a contramão mais próxima,torre alta,farol.

    ResponderEliminar