segunda-feira, agosto 10, 2009

CLIMA EM PORTUGAL

Do « Público»10.08.2009 - 08h41 Helena Geraldes, Romana Borja-Santos
O Verão está com ares de Primavera, especialmente nas manhãs e noites ventosas, e os veraneantes andam algo inquietos com a "partida" climatérica. E têm razão. Houve dias de Primavera mais quentes. E as temperaturas médias de Julho foram mais baixas do que os valores normais, segundo o Instituto de Meteorologia.A máxima registou uma diminuição de 0,5ºC e a mínima de 1,2ºC. E também choveu mais do que seria normal, especialmente nas regiões do Noroeste.Contudo, dois novos estudos científicos a que o PÚBLICO teve acesso provam a inconstância do clima, dando conta daquilo que tem vindo a acontecer com a temperatura e a precipitação nas últimas décadas em Portugal.João Andrade Santos, do CITAB (Centro de Investigação e Tecnologias Agro-Ambientais e Biológicas) da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, estudou as alterações da temperatura em Lisboa no século XX. "Observámos subidas bastante significativas da temperatura máxima durante todo o ano, com particular intensidade em Março [quase mais 4ºC]", contou ao PÚBLICO. "A tendência para o aumento da temperatura é mais acentuada a partir dos anos 70. É uma tendência muito clara."Além disso, são cada vez mais frequentes as temperaturas extremamente elevadas na capital. "O período de retorno de uma temperatura superior a 40ºC era, na primeira metade do século XX, de cerca de 50 anos, tendo caído para 25 anos na segunda metade deste século", explicou."A temperatura em Lisboa é, obviamente, diferente do resto do país. Mas o comportamento e evolução desta série [baseada em dados da estação meteorológica do Instituto Geofísico Infante D. Luís, em Lisboa, a mais antiga do país] é muito semelhante às restantes e as conclusões podem ser extensíveis a quase todo o continente", notou.Menos chuva em MarçoNão são só as temperaturas que estão a mudar. O mesmo acontece com os padrões de precipitação. Entre 1950 e 2002, a precipitação nos meses de Março na Península Ibérica registou uma redução de oito por cento e de três por cento nos meses de Abril e Maio. Estas foram as conclusões de um estudo do Instituto Pirenaico de Ecologia, em Saragoça (Espanha), publicado no mês passado. "Tem-se assistido a uma redução progressiva desde meados do século XX e todas as projecções indicam que esta projecção se vai manter depois de 2050", disse ao PÚBLICO Sergio Vicente, do instituto espanhol. Na Primavera e Verão, esta redução pode atingir os 15 por cento.Não obstante, os cientistas acreditam que as estações do ano continuarão a ter o seu lugar. "As mudanças que identificámos não são suficientes para alterar o padrão anual de precipitação", salvaguardou.Para Filipe Duarte Santos, coordenador do projecto SIAM (Climate Change in Portugal. Scenarios, Impacts and Adaptation Measures), "é mais difícil fazer projecções para a precipitação porque é uma variável mais difícil de modelizar. Mas quanto à temperatura, não há dúvidas. O sinal de aumento é bastante claro na Península Ibérica", comentou ao PÚBLICO.Ainda assim, este investigador - que estuda o impacte das alterações climáticas desde a década de 80 do século passado - não hesita ao explicar as variações na precipitação com a localização do anticiclone dos Açores. "Quando o anticiclone tem uma intensidade elevada, bloqueia as superfícies frontais que são levadas para norte e não chegam ao Sul da Europa." A tendência para o futuro é chover mais no Norte da Europa e menos no Sul porque o anticiclone dos Açores deverá deslocar-se para norte. "Todos os modelos são concordantes nisto."O que é certo é que estas "partidas" do clima não são de hoje. Há 122 anos já Portugal andava inquieto, mas não os veraneantes e sim os agricultores. "Dizem os nossos lavradores que as estações estão mudadas, porque a época das grandes chuvas - a dos frios rigorosos - e a dos grandes calores já não condizem com as de outros tempos", escreveu o Visconde de Monte-São (Manuel dos Santos Pereira Jardim, 1818-1887), numa publicação de 1887 da Universidade de Coimbra. Mais de um século depois, continuamos a falar sobre a variabilidade do clima. E a tentar identificar o que são alterações naturais ou causadas pelo homem.

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