sábado, dezembro 19, 2009

O ROUXINOL

Como inquietas aves num chinfrim,
As recordações caem sobre mim,
Nas folhas do meu coração, mirando
O dobrado tronco de fino estanho
Roxo da água do Arrependimento
Sempre a correr melancolicamente;
Abatem-se e, depois, o mau ruído
Que a húmida brisa acalma, ao subir,
Extingue-se na árvore, devagar,
E ao fim de um instante já não ouve nada,
A não ser a voz celebrando a Ausente,
Apenas a voz - tão enlanguescente! -
Da ave que foi o meu Primeiro Amor
E canta ainda como nessa hora;
E então, no esplendor triste de uma lua
A subir solene e pálida, umaNoite de Verão soturna e tão pesada,
Cheia de silêncio e obscuridade,
Embala no ar, que o vento mal roça,
A árvore que treme e a ave que chora.

Paul Verlaine, in 'Poemas Saturnianos e Outros'

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