sexta-feira, dezembro 11, 2009

XADREZ

I
Em seu grave rincão, os jogadores
as peças vão movendo. O tabuleiro
retarda-os até a aurora em seu severo
âmbito, em que se odeiam duas cores.
Dentro irradiam mágicos rigores
as formas: torre homérica, ligeiro
cavalo, armada rainha, rei postreiro,
oblíquo bispo e peões agressores.
Quando esses jogadores tenham ido,
quando o amplo tempo os haja consumido,
por certo não terá cessado o rito.
Foi no Oriente que se armou tal guerra,
cujo anfiteatro é hoje toda a terra.
Como aquele outro, este jogo é infinito.


II
Rei tênue, torto bispo, encarniçada
rainha, torre direta e peão ladino
por sobre o negro e o branco do caminho
buscam e libram a batalha armada.
Desconhecem que a mão assinalada
do jogador governa seu destino,
não sabem que um rigor adamantino
sujeita seu arbítrio e sua jornada.
Também o jogador é prisioneiro
(diz-nos Omar) de um outro tabuleiro
de negras noites e de brancos dias.
Deus move o jogador, e este a peleja.
Que deus por trás de Deus a trama enseja
de poeira e tempo e sonho e agonias?

Jorge Luís Borges

2 comentários:

  1. Caro peregrino...

    E assim é nossa vida...
    Espaços delimitados, guerras de territórios, entre noites negras e dias brancos (como dissestes), chefes e subordinados, reis e plebeus...
    Que bom é poder acreditar que Deus é quem controla o jogo... mas a mão do jogador precisa ser forte, perserverante e seus olhos astutos pra ter controle e estratégia do jogo da vida e colocar o adversário sob ataque, de tal modo que não se possa evitar, por meios legais, a captura no lance seguinte... e assim dar um xeque mate no nosso dia-dia...
    O jogador astuto, vence a batalha...

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  2. "Deus move o jogador, e este a peleja.
    Que deus por trás de Deus a trama enseja
    de poeira e tempo e sonho e agonias?"
    Que o jogador seja perseverante e lúcido e assim vencerá o jogo que é a nossa Vida.

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