sábado, março 06, 2010

POESIA DEPOIS DA CHUVA

Depois da chuva o Sol - a raça.
Oh! a terra molhada iluminada!

E os regos de água atravessando a praça

- luz a fluir, num fluir imperceptível quase.



Canta, contente, um pássaro qualquer.

Logo a seguir, nos ramos nus, esvoaça.

O fundo é branco - cai fresquinha no casario da praça.

Guizos, rodas rodando, vozes claras no ar.



Tão alegre este Sol! Há Deus. (Tivera-O eu negado

antes do Sol, não duvidava agora.)

Ó Tarde virgem, Senhora Aparecida! Ó Tarde igual

às manhãs do princípio!



E tu passaste, flor dos olhos pretos que eu admiro.

Grácil, tão grácil!... Pura imagem da tarde...

Flor levada nas águas, mansamente...



(Fluida a luz, num fluir imperceptível quase...)

                  
                                                 Sebastião da Gama

1 comentário:

  1. Venha, me conte histórias. Comova-me com suas vergonhas mais bobas, revele-me segredos incontáveis. Faça-me participar das suas fotografias, das suas sobremesas, da sua morte. Navegue-me pelos seus pânicos, abra a cortina das memórias inventadas, não negue nada. Acima de tudo, não negue nada.

    Mude-me para sua casa, pendure-me junto com as chaves. Esqueça-me. Distraia-me com suas amantes imaginárias. Convide-me à sua solidão. Leve-me ao batizado dos seus fantasmas.

    Elogie-me para desconhecidos. Apresente-me seus piores parentes. Comente os versos de que você gosta, um por um. Faça-me sentir o arrepio dos espelhos. Não desista, não desista. Deixe-me nervosa, engolindo pensamentos e mastigando sílabas. Faça-me corar e sentir raiva de vermelhos. Perca-me pela vida. Acenda velas para mim na sua encruzilhada favorita. Reze por mim.

    Pegue minha tristeza no colo, tenha pena de mim. Afague-me, acarinhe-me, me dê ombro e sofá. Dê chá e goiabinhas piraquê, cigarros e contos de fada. Lamba minhas lágrimas. Empreste-me seus olhos.

    Diga que tenho boca de se perder e olhos de se achar. Enfeitice-me. Invada meus pensamentos nas salas de espera; ria de mim, nunca em sustenidos. Me faça acordar no meio do dia para viver poesia de encontros. Me deixe boba e molenga. Deite-me e cale-me. Faça-me sentir seu peso sobre mim. Esmague-me e invada-me. Me faça gozar à força. Apresente-me o vácuo.

    Traga-me sorriso e dentes-de-leão, coleções de tatu-bola e chuva de fim do mundo. Esculpa músicas no teto do quarto. Estrague-me, me deixe mimada e cruel. Apague o sol quando eu pedir. Ignore meu desejo de tecer vidas e inventar espantos. Desligue qualquer vontade que não tenha jeito de vida perfeita e cheiro de banho tomado.

    Deixe-se cair, se ofereça em sacrifício. Suicide o que for preciso, minta, recuse o que não for profundidade. Enlouqueça calendários e dias santos. Abandone-se.

    Venha agora: escreva suas histórias em mim.

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