A Energia voltou ao centro do debate político em Portugal, se é que alguma vez deixou de lá estar, com lampejos intermitentes e significativos. Ainda bem que assim é, porque o tema energético assume uma importância que não pode ser esquecida, e as diferentes opções devem ser conhecidas e escrutinadas. Note-se que não se trata de um debate exclusivamente técnico, dispensando-se os arrogantes «argumentos de autoridade». Diz respeito a todos e a todos afecta, a todos deve interessar e envolver.
A forma como se produz e consome energia define uma sociedade e o modelo político que escolhemos. Pode dizer-se que a energia que faz mover a economia e a vida social, condiciona e molda o modo como vivemos.
O documento recentemente divulgado, subscrito por diversas individualidades políticas e por técnicos do sector, «Manifesto por uma nova política energética em Portugal» tem o mérito de reacender o debate. Mas não falta quem o analise numa perspectiva de mera «oportunidade política». O seu conteúdo exprime críticas radicais à opção fundamental pelas energias renováveis, parecendo abrir, em nome da necessidade de não agravar a emissão de gases de efeito de estufa, as portas ao nuclear. Abrandar o ritmo de produção de energias renováveis (por alegados motivos económicos e funcionais) e aproveitar o fecho inevitável das nossas velhas centrais térmicas a carvão para a entrada em cena da «salvadora» opção nuclear, eis o que se depreende.
Não cabe aqui a discussão deste documento, aliás perfeitamente legítimo no exercício democrático de opinião. Apenas lembrar que o nuclear é caro, colocar-nos-ia na dependência dos fornecedores de urânio tratado, coloca problemas de segurança bem reais, mantém a centralização energética e a dependência de uma única fonte e finalmente produz resíduos que não podem ser tratados e permanecerão radioactivos durante milhares de anos, acumulados e guardados sabe Deus onde— veja-se o problema insolúvel que a Espanha enfrenta.
O caminho parece ser a aposta reforçada nas fontes renováveis, solar, eólica, geotérmica, biomassa, entre outras, de preferência aligeirando a participação das grandes barragens que em nome da «energia limpa» destroem biodiversidade e paisagem, riquezas que também não podemos dispensar.
Uma coisa porém assemelha a estratégia dos críticos manifestantes e a do governo: ambas, divergentes em tanta coisa, menosprezam o papel da «eficiência energética». Porque pensar em produzir sempre mais energia e não conceber a redução do seu consumo?
Por eficiência energética entende-se «actividade que procura optimizar o uso das fontes de energia. A utilização racional de energia, outro nome para eficiência energética, consiste em usar menos energia para fornecer a mesma quantidade de valor energético.
De acordo com a Agência Internacional de Energia, «edifícios energeticamente eficientes, processos industriais e de transporte poderiam reduzir as necessidades energéticas do mundo em 2050 em um terço, e isso será essencial no controlo das emissões globais de gases com efeito de estufa.»
Alguns pensam que a poupança pode mesmo ser maior, sem diminuir a qualidade de vida humana.Os objectivos da União Europeia para 2020 incluem a redução em 20% do consumo de energia. Está em vigor, desde há pouco, o Plano Nacional de Acção para a Eficiência Energética.
As cidades, as empresas, as famílias podem e devem ser parte desta solução—e beneficiar economicamente com ela.
Talvez valha a pena voltar a este tema, em próxima crónica, na perspectiva da Região Norte e do Grande Porto, em tempo de depressão económica e de crise ecológica.
Bernardino Guimarães
(Crónica publicada no Jornal de Notícias, 13/1/010)
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