terça-feira, junho 08, 2010

AMBIENTE EM RECESSÃO

1)Nem as pontuais celebrações do Dia Mundial do Ambiente servem para atenuar o facto: a crise económica tende a fazer passar o Ambiente para segundo plano. A «crise ecológica» tão patente na realidades das coisas, deixou quase os cabeçalhos e certamente as agendas políticas, todas voltadas para os ditames de entidades mais ou menos misteriosas como «os mercados» e as agências de notação de risco. Não deixa de ser evidente que esta crise, dita «do crédito» ou da falta dele, motivou medidas de austeridade cegas, nada inovadoras e que atingem gravemente os critérios de justiça social.
Mesmo se inevitáveis no curto prazo, tais medidas são paliativos que não modificarão nada de essencial. Alguns economistas mais avisados já perceberam que são precisas respostas inovadoras, e que se crédito há abusivamente contraído, esse é em primeiro lugar o do «capital natural» que exploramos sem medida. Uma nova economia tem de partir do abandono da ideia da Terra inesgotável de recursos, começando por valorizar os serviços que a Natureza nos presta.
Se vivemos acima das nossas possibilidades, porque a «pegada ecológica» do nosso consumo excede já o que o planeta pode oferecer, é tempo de parar para pensar: as coisas jamais serão as mesmas e a crise— a económica e a ecológica— pertencem ao mesmo problema/dilema do tempo de hoje. Gastar menos o «capital natural» e construir um sistema viável e socialmente mais equitativo— à escala europeia e global-- não será tarefa fácil. Mas lembremos: nada no mundo tem mais força do que uma ideia cujo tempo tenha chegado!


2)A explosão e derrame da plataforma da BP no Golfo do México não é apenas o maior desastre petrolífero da História, mas pode bem ser o dobre de finados de um tipo de exploração que foi apontado como a maior esperança da indústria. Os furos da prospecção no mar alto tentam responder ao cada vez mais evidente esgotamento comercial das reservas de petróleo em terra. Esqueceram-se, como se vê, as regras mais elementares da prudência e da segurança. Duvida-se que alguma coisa fique na mesma depois desta catástrofe— cuja dimensão ainda nem podemos medir. Seguramente a exploração «offshore» será muito mais cara no futuro próximo, isto se for viável.
Já agora, o que se passa ou vai passar com as licenças de prospecção cedidas ao longo da costa portuguesa? Sabe-se pouco disso. O governo concedeu licenças, os locais permanecem em segredo (ou pelo menos este cronista não tem conhecimento) e seria bom que soubéssemos o que se passa quanto a esse «dossier»!
Sair da dependência do petróleo significa cuidar do ambiente e da economia. Ou teremos o clima cada vez mais desregulado e a prazo todos os oceanos serão o «Mar Morto» da nossa vergonha.


3)Um bando de andorinhões-pretos sobre as ruas movimentadas da Baixa portuense. Silvos agudos, asas velozes em forma de «boomerang», formato aerodinâmico, estas pequenas aves que cortam o céu em todas as direcções pertencem aos ventos e às alturas. Quase nunca pousam, nem para visitar o ninho e alimentar as crias, dormem em voo e a sua agitação devolve-nos uma Primavera melhor. No Outono voltarão às savanas africanas, entre perigos e velocidade estonteante, e as suas figurinhas escuras e nervosas irão sobrevoar paisagens diferentes, outras gentes e casas.
Vê-los é presenciar um suave milagre, que o bulício da cidade esconde. Quase se confundem com minúsculos cometas, os andorinhões-pretos sôfregos de insectos, silhuetas recortadas no azul do céu.
Que tenham boa estadia entre nós os bravos viajantes— sinais de vida por cima das nossas vidas!
Bernardino Guimarães
( Crónica publicada no Jornal de Notícias, 8/6/010)

1 comentário:

  1. Felizes dos andorinhões BG ja não percisam posar na imundice que estamos a tornar o planeta.

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