segunda-feira, setembro 27, 2010

POEMA DO FUTURO

Conscientemente escrevo e, consciente,
medito o meu destino.

No declive do tempo os anos correm,
deslizam como a água, até que um dia
um possível leitor pega num livro
e lê,
lê displicentemente,
por mero acaso, sem saber porquê.
Lê, e sorri.
Sorri da construção do verso que destoa
no seu diferente ouvido;
sorri dos termos que o poeta usou
onde os fungos do tempo deixaram cheiro a mofo;
e sorri, quase ri, do íntimo sentido,
do latejar antigo
daquele corpo imóvel, exhumado
da vala do poema.

Na História Natural dos sentimentos
tudo se transformou.
O amor tem outras falas,
a dor outras arestas,
a esperança outros disfarces,
a raiva outros esgares.
Estendido sobre a página, exposto e descoberto,
exemplar curioso de um mundo ultrapassado,
é tudo quanto fica,
é tudo quanto resta
de um ser que entre outros seres
vagueou sobre a Terra.

                             António Gedeão, in 'Poemas Póstumos'

2 comentários:

  1. Tenhamos discernimento para distinguir o que é essencial daquilo que apenas o parece, que tenhamos bondade a lidar com todos, inclusive connosco próprios, que tenhamos coragem para respondermos aos Desafios e eventuais dificuldades que surjam.Que se realizem os nossos melhores e mais belos sonhos.

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  2. Tenhamos discernimento para distinguir o que é essencial daquilo que apenas o parece, que tenhamos bondade a lidar com todos, inclusive connosco próprios, que tenhamos coragem para respondermos aos desafios e eventuais dificuldades que surjam.

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