quarta-feira, novembro 10, 2010

NUVENS (I)

Não há uma só coisa que não seja
nuvem. Assim são essas catedrais
de vasta pedra e bíblicos cristais
que o tempo alisará.
 É-o a Odisseia, que
muda como o mar; há algo distinto
de cada vez que a abrimos. O teu velho
rosto já é outro, visto no espelho,
e o dia é um duvidoso labirinto.
Somos os que  vão. A volumosa
nuvem que se desmancha no poente
é a nossa imagem. Incessantemente
a rosa se converte noutra  rosa.
És nuvem, mar, esquecimento.
E és o que se perdeu a cada momento.

                             Jorge Luís Borges

1 comentário:

  1. Sim ,cada dia é um duvidoso labirinto.
    A vida é uma constante mudança.
    Espero que a conversão de uma rosa por outra rosa , seja realizada sem mutações nos seus genes.

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