terça-feira, fevereiro 01, 2011

CERCO ÀS ÁRVORES


                ( Antes e depois, Escola do Cerco. Fotos de Paulo Moura)

As árvores morrem de pé, como se sabe. Mutiladas, cortadas da forma mais bárbara, sem ciência nem piedade, os seus algozes sabem que estes seres maravilhosos não se queixam. As árvores morrem silenciosamente. Tantas são as injustiças que lhes são infligidas e tão dolorosas, que gostaríamos de as ver, por momentos, sair da sua discrição vegetal— protestando.
Só que, na realidade, as árvores não se manifestam, não escrevem abaixo-assinados e muito menos convocam, entre si, por sms, aquelas concentrações de protesto que derrubam tiranos na Tunísia e no Egipto e colocam em sentido os abusadores no poder.
Não. Voltadas para o vasto céu, firmadas na terra com raízes fundas, a vocação das árvores é toda amor ao local onde cresceram e recato sobre a vida e tudo o que as rodeia. As suas mensagens são a brisa filtrada pelas ramadas, a luz que se espalha nas copas em matizes de cor variada, verde e oiro, o tronco fiel e robusto em verticalidade nobre.
Por isso nos assiste o dever de defender a causa das árvores em seu nome. E em nosso nome, que delas precisamos para viver condignamente.
Apesar de ser já cansativa a denúncia de mais arboricídios, de maus tratos cruéis e estúpidos, não pode passar sem reparo o caso da Escola EB 2,3 e Secundária do Cerco, no Porto— a última proeza da irracionalidade que anda à solta, pelos vistos, nas instituições que supostamente educam as novas gerações. E que patético, sinistro exemplo para os jovens alunos ali ficou!
Já aqui se denunciou a péssima e bizarra relação entre a renovação das escolas— em si mesma, coisa positiva— e as arvores que tiveram a desdita de crescer nesses recintos.
Tem sido um «fartar, vilanagem» para os obscuros inimigos das árvores. Abates sem sentido, projectos que se demonstram incapazes de conciliar a manutenção dos espaços verdes existentes, com a modernização dos espaços escolares, enfim, tragédias que podem ser constatadas, bastando olhar, mesmo de fora, para o vazio que deixaram as árvores e arbustos que existiam em volta dessas escolas. A obra da empresa criada pelo governo para a remodelação das escolas— a Parque Escolar— pode considerar-se manchada por essa sanha arboricida generalizada.
Mas o caso do Cerco é ainda mais estranho. De acordo com o JN, o próprio «arquitecto responsável pelo projecto está indignado com a operação, que decorreu dois meses depois da inauguração das obras». E mais se lê na notícia que «o projecto de arquitectura teve em conta uma solução integrada entre edifícios e espaços verdes. Um pavilhão polivalente onde se encontra a cantina foi mesmo desenhado em função de um plátano, criando-se uma abertura no centro edifício de modo a permitir o crescimento da árvore. Mas agora, de um exemplar com cerca de 25 metros de altura, resta um tronco com 3 metros.»
O caderno de encargos do projecto era claro: "Em caso algum deve ser efectuado o corte vertical, devendo-se manter o carácter natural". Porém, as árvores foram despidas de ramos e folhas, retirando-se, noutros casos, mais de 70% da copa.
Diversas árvores foram decepadas ao ponto de nada delas restar senão um coto, correspondente a parte do tronco. Eram saudáveis e a sua protecção, desta vez, foi firmemente recomendada pelos responsáveis do projecto! Que se passou então? Que celerada ideia mandou para o lixo o trabalho dos técnicos e o simples bom senso?
A mesma peça do JN aponta hipóteses: uma delas nem parece verosímil: a direcção da escola terá entendido, na sua evidente sapiência, que as árvores sujavam o chão com as folhas! De espantar…resta saber se o crime foi cometido com ou sem a aprovação da Parque Escolar.
Triste, muito triste, lamentável !
(Crónica publicada no Jornal de Notícias, em 1/2/2011)




3 comentários:

  1. Muito triste, não compreendo como foi possível. A Direcção da Escola é ouvida durante o processo.Como permitiu esta barbaridade?

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  2. claro que é possível...bastando para isso ser desprovido de espinha dorsal...estes apadrinhados do poder e não da competência, para quem "princípios" soam a uma qualquer espécie de doença africana, encostam-se na cobardia dos seus gabinetes tomando decisões de acordo com os seus QI´s, (quociente de inteligência) trd.caso os visados leiam este texto. Diga-me director da Escola...você é uma marionete ou também pertence ao grupo acima descrito?
    È incrivel!!! o exemplo dado numa escola é matar árvores!!!
    Gente fraca!!! daqueles que, nos jantares de vaidades, com os seus convivas dizem que o nosso País vai assim por culpa daqueles que mandam...

    calvanas@gmail.com

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  3. triiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim

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