quinta-feira, fevereiro 24, 2011

ERA UMA NOITE APRESSADA

Era uma noite apressada
depois de um dia tão lento.
Era uma rosa encarnada
aberta nesse momento.
Era uma boca fechada
...sob a mordaça de um lenço.
Era afinal quase nada,
e tudo parecia imenso!


Imensa, a casa perdida
no meio do vendaval;
imensa, a linha da vida
no seu desenho mortal;
imensa, na despedida,
a certeza do final.

Era uma haste inclinada
sob o capricho do vento.
Era a minh'alma, dobrada,
dentro do teu pensamento.
Era uma igreja assaltada,
mas que cheirava a incenso.
Era afinal quase nada,
e tudo parecia imenso!


Imensa, a luz proibida
no centro da catedral;
imensa, a voz diluída
além do bem e do mal;
imensa, por toda a vida,
uma descrença total!


                      David Mourão-Ferreira

1 comentário:

  1. "O Vergílio Ferreira diz que o poeta passa por duas emoções igualmente sentidas; a que a vida lhe deu e a que a arte recompôs ou re-criou. Assim, o leitor, limita-se a ter uma emoção que não é sua, porque só o é pelas afinidades que julga ...descobrir com a sua problemática emocional, e que, na realidade, nada tem a ver com as emoções do poeta: A sentida na vida e a recriada na arte."

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