terça-feira, abril 12, 2011

MEMÓRIA E MAR

As ondas parecem cavalos de água pura, dobrados sobre o dorso, e há uma canção inaudível no fundo daquela brancura, daquele sal exausto e espalhado.
Que espero eu do mar? Da noite do mar, da espuma da lua, da areia do infinito?
Se muda o cenário, se cada minuto muda de azul e de tamanho, mudo eu?
Há uma canção de búzios e de profundezas,... a chamar, a chamar...


Segundo andamento, há um sol que derrete no mar e um veleiro inteiramente imaginário irrompe na minha cabeça. Sargaços e sal, algas e almas, evanescentes cores que são só memórias minhas. A mente mente, coração liquefeito, azul cardíaco com sede de longe e de barcos e cordame e choros de anjos marinhos aprisionados num convés.


 
O meu corpo extende-se, os ossos sobre a areia, pura sílica exaltada e arrefecida;´humida a sensação da sombra de encontro àquela terra móvel, invadida de ondas, grávida de marés. Repouso e abro os olhos: a luz escondeu-se. Um farol agita-se nervoso, já os fantasmas se revelam dispersos e assustados dançando as suas noites contínuas, febres terríveis, abraços sem matéria, atmosféricos e vazantes

 
 
Como a noite caiu, encheu-se de luzeiros a patética e bela abóbada eterna, como se o universo fosse uma festa de S.João.
As vagas vagamente prata e azul escuro, vagueavam-se, ampliavam-se, espraiavam-se como imensos muros contorcendo-se. E descortinei pássaros nocturnos, morcegos afogueados e meteoros velozes.


Saio combalido e gelado, com pouco mais do que uma lição de pintura no céu e a salgada, pesada realidade do mundo.
Crepúsculos belos tornam mais reais o final atormentado dos dias e a morte súbita dos sonhos. Renovação e movimento, disparo de estrelas e de navios. Fica-se mais perto de saber que o longe não se alcança. Mas os olhos marejados de todos os azuis vão nas ondas, à procura de novas distâncias.


E se fôssemos mesmo o sonho de um peixe? Se todos os nossos pesadelos e desilusões fossem afinal areia e partículas, vidro confundindo-nos? Mas o mar chama-nos, chama-nos de uma forma infinitamente verde...
Queria ter o mar comigo e lavar-me de memórias.

BG

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