terça-feira, maio 10, 2011

POR VEZES CADA OBJECTO SE ILUMINA

Por vezes cada objecto se ilumina
do que no passar é pausa íntima
entre sons minuciosos que inclinam
a atenção para uma cavidade mínima
E estar assim tão breve e tão profundo
...como no silêncio de uma planta
é estar no fundo do tempo ou no seu ápice
ou na alvura de um sono que nos dá
a cintilante substância do sítio
O mundo inteiro assim cabe num limbo
e é como um eco límpido e uma folha de sombra
que no vagar ondeia entre minúsculas luzes
E é astro imediato de um lúcido sono
fluvial e um núbil eclipse
em que estar só é estar no íntimo do mundo


António Ramos Rosa

1 comentário:

  1. É é como se tudo o que precisa vir a ser se ilumine no objeto e viva na pausa íntima. Como se o silêncio da planta nos invadisse para nos transportar ao fundo do tempo...
    E um sono claro e alvo, inocente, nos faça caber o mundo inteiro, como cabe num limbo.
    Também já senti o limbo cabendo em mim, e nele, o mundo inteiro; aqui o poeta fala de um sentimento universal que é muito sofrido,mas necessário para poder ouvir o eco límpido e o vagar da folha de sombra nas minúsculas luzes.
    E é necessária a solidão e o silêncio para se chegar no íntimo do mundo.
    Maravilhoso poema. A poética portuguesa de todos os tempos é mesmo genial. Sinto-me atrevida e inadequada em analisar um poema de tal grandeza. Não seria melhor o silêncio?
    Sinto-me antropofágica, Peregrino.
    Regina Gaiotto - Tietê/SP - Brasil

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