Mostrar mensagens com a etiqueta José Carlos Ary dos Santos. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta José Carlos Ary dos Santos. Mostrar todas as mensagens

sábado, fevereiro 26, 2011

CANTO FRANCISCANO

Por onde passaste tu que não soubeste passar?
Pela sandália do tempo
pelo cílio do luar
pelo cílicio do vento
pelo tímpano do mar?
Por onde passaste tu
que não soubeste passar?


Por onde passaste tu
que me ficaste cá dentro
tenaz do fogo divino
irmão pinho ou aloendro?
Por onde passaste tu
que me ficaste cá dentro?


Pois bem: nos campos da fome
ou nos caminhos do frio
se eu encontrasse o teu nome
lançava-te o desafio:
por onde passaste tu
pétala viva dos cerdos
rei das chagas e dos podres
- por onde passaste tu
não passaram as minhas dores!


Nasci da mãe que não tive
do pai que nunca terei
e aquilo que sobrevive
é o irmão que não sei:
uma espécie de fogueira
de corpo que me deslumbra.
Tudo o mais à minha beira
é uma réstia de sombra.
- Por onde passaste tu
com artelhos de penumbra?

Eis-me. Eis-me incendiado
por não saber perdoar.
Meu irmão passa de lado
- Eu sei como hei-de passar.


         José Carlos Ary dos Santos





quarta-feira, julho 01, 2009

A CIDADE

A cidade é um chão de palavras pisadas
A palavra criança a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância e a palavra medo.

A cidade é um saco. Um pulmão que respira
pela palavra água pela palavra brisa.
A cidade é um poro um corpo que respira
pela palavra sangue pela palavra ira.

A cidade tem ruas de palavras abertas
como estátuas mandadas apear.
A cidade tem praças de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.

A palavra esperança é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa-chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há ruas de sons que a palavra não corra
à procura da sombra duma luz que não há.

José Carlos Ary dos Santos