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Ou talvez não: se é certo que a opinião pública foi sendo sabiamente preparada para um fracasso que arrefecesse excessivas esperanças, o tom é agora de optimismo moderado. Obama fez saber que estaria presente na Cimeira, juntando-se a pelo menos 65 outros chefes de estado e de governo— e essa presença pode fazer toda a diferença. Veremos.
Todas estas peripécias na fase preparatória trazem consigo matéria para reflexão. E interrogação. Se o problema (a acelerada mudança climática) é global, e diz respeito a todas as nações, como pode continuar a ser bem aceite o «egoísmo nacional» que empurra para outros as responsabilidades, os sacrifícios e os custos?
Reflecte-se no clima— a julgar pelo consenso quase geral dos cientistas— o que fazemos no dia-a-dia. Consumo de energia em primeiro lugar. A nossa civilização poderia ser designada de «civilização da queima» --combustão é o que tem feito e faz mover o mundo. Arder petróleo, carvão, gás natural, tudo isso que vem do solo e é incendiado metodicamente, enfiado em caldeiras e fábricas, mais ou menos refinado e triturado e acaba como combustível nas centrais térmicas que nos fornecem a electricidade ou nos motores das viaturas que nos levam pendularmente de um lado para outro. Tudo se queima, tudo se transforma. Boa parte desse material é rejeitado…para a atmosfera, cuja composição se alterou nos últimos 150 anos, com cada vez maior porção de carbono. Carbono que é elemento fundamental nos ciclos da matéria e da vida, na própria formação física dos seres vivos e é coisa decisiva na Terra e nos outros planetas. Ironicamente, na sua forma gasosa, tornou-se no «inimigo público número um»!
Já todos sabemos que, se pouparmos energia, poupamos o planeta e o futuro— e poupamos dinheiro também. Se formos mais eficientes na utilização da energia, faremos o mesmo com menos, sem perda de resultados. Se usarmos formas de energia renováveis, asseguramos o nosso nível de vida sem acelerarmos as mutações climáticas e outros efeitos negativos. E se consumirmos com mais critério, moderação e inteligência, gastaremos menos energia e deixaremos menos resíduos no final do processo.
Com Copenhaga ou não, pensemos que a defesa do Ambiente também quer dizer solidariedade— com as gerações futuras, sim, e com os que hoje em dia são pobres…
Enquanto se tenta (e com que dificuldades!) abrandar o consumo voraz de energia nos países desenvolvidos, uma notícia de há dias deu-nos conta de que trinta por cento— cerca de um terço! — da Humanidade nem sequer tem acesso à electricidade.
Dá que pensar. O mundo da poluição e do desperdício é também o mundo da desigualdade e do desencontro.
Bernardino Guimarães
(Crónica na Antena 1, em 26/11/09)
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