Luas, marfins, instrumentos e rosas,
Traços de Durer, lampiões austeros,
Nove algarismos e o cambiante zero,
Devo fingir que existem essas coisas.
Fingir que no passado aconteceram
Persépolis e Roma e que uma areia
Subtil mediu a sorte dessa ameia
Que os séculos de ferro desfizeram.
Devo fingir as armas e a pira
Da epopeia e os pesados mares
Que corroem da terra os vãos pilares.
Devo fingir que há outros.
É mentira. Só tu existes.
Minha desventura,
Minha ventura, inesgotável, pura.
.
Jorge Luis Borges, in "História da Noite"
sexta-feira, abril 22, 2011
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Minha desventura,
ResponderEliminarMinha ventura, inesgotável, pura...
E nada mais é necessário...
"Devo fingir que existem essas coisas; apesar de não vê-las, sinto-as vistas na alma e ainda que finja não vê-las, a arma e a pira me queimam e me incendeiam. Devo fingir que existem essas coisas que não vejo... Mas tu, minha desventura, só tu, minha alma desnuda e te vejo, inesgotável e pura..."
ResponderEliminarAdoro Jorge Luís Borges, por isto a tentativa de atingir sua transcendência nesta réplica.
Regina Gaiotto - Tietê/SP - Brasil