De energia muito se tem falado. Tema central, motivador de mudança, mesmo de «revoluções anunciadas», entre o peso da geopolítica, a pressão dos mercados globais e a urgência de deter a caminhada para a catástrofe ecológica. O clima, esse mudou já e em todos os sentidos. Quem diria há uns anos atrás, que circunspectas e soberbas multinacionais se dedicariam com afã ao avanço das tecnologias ligadas às energias renováveis, que coisas como a microgeração ou produção descentralizada de electricidade iriam estar na mira das empresa e dos governos?
Não passou muito tempo desde que alguns ecologistas e visionários vaticinaram, pregando no deserto, o advento das energias «limpas», produzidas no local de consumo, recusando a centralização gigantista das mega-centrais e o paradigma dos combustíveis fósseis versus termonuclear.
Esses foram arrumados na prateleira dos irrealistas, quando não dos «hippies» amadores da ruralidade idealizada. Mas tinham razão no fundamental— apenas a tiveram antes do tempo!
2) O que se tem feito em Portugal no domínio das renováveis deve ser assinalado e estimulado. Muita coisa mudou e continuará a mudar, espera-se.
Mas essa realidade positiva não deixa de estar ensombrada por uma debilidade estrutural: a ineficiência no uso da energia, o espantoso e irracional desperdício de recursos alegremente cometido, nos edifícios, na iluminação pública, nas empresas, mesmo no que se constrói de novo, incluindo edifícios públicos e infra-estruturas várias— sem que escapem até (pasme-se) algumas instalações dedicadas à evocação e defesa do Ambiente!
Por toda a parte, --e com honrosas excepções— o mesmo cenário irresponsável, apesar da legislação recente (aparentemente pouco observada): construção mal concebida, materiais desadequados, péssimo isolamento, má gestão do espaço— males que serão «compensados» durante décadas pela acção intensiva do ar condicionado e do aquecimento -- o que com o nosso clima parece anedota de mau gosto--; iluminação pública despesista e ineficaz; enfim— falta de aplicação das normas mais elementares da eficiência energética. Quem culparemos? Os arquitectos? Os engenheiros? Os autarcas? Os consumidores e utentes? Toda a gente?
3) «Agir sobre a procura» de energia significa ultrapassar este estado de coisas que nos empobrece.
A União Europeia dedicou atenção a este tema e quer reduzir em 20% o consumo de energia primária nos próximos anos. O Plano de Acção aprovado vincula o Estado português, que aliás já se dotou de uma estratégia para este problema. Resta aplicá-la. Mas não parece que haja suficiente empenho, esclarecimento e…energia!
Este problema tem consequências graves na economia e no Ambiente. Energia desperdiçada é dinheiro deitado fora e emissão de mais CO2 para atmosfera.
O progresso das energias renováveis só será eficaz se grande parte desse esforço não for desperdiçado em pura perda, na lógica perversa do nosso aumento anual de consumo de energia, sem paralelo na Europa nem correspondência com o nosso débil crescimento económico.
Nada disto faz sentido.
Que os projectistas de obras e edifícios celebrados não demonstrem conhecimentos nesta área, desprezando questões básicas, eis o que é difícil aceitar. A ignorância nestes assuntos será desculpável, nas profissões e funções onde mais se deveria esperar actualização de saberes? E não devia o Estado e o poder local ser exemplar e pedagógico?
Criar desenvolvimento sustentável passa por este tipo de desafios. Para uma nova relação, mais racional e harmoniosa com os recursos que utilizamos e com o mundo que nos rodeia.
Bernardino Guimarães
(Crónica publicada originalmente no Jornal de Notícias)
Não passou muito tempo desde que alguns ecologistas e visionários vaticinaram, pregando no deserto, o advento das energias «limpas», produzidas no local de consumo, recusando a centralização gigantista das mega-centrais e o paradigma dos combustíveis fósseis versus termonuclear.
Esses foram arrumados na prateleira dos irrealistas, quando não dos «hippies» amadores da ruralidade idealizada. Mas tinham razão no fundamental— apenas a tiveram antes do tempo!
2) O que se tem feito em Portugal no domínio das renováveis deve ser assinalado e estimulado. Muita coisa mudou e continuará a mudar, espera-se.
Mas essa realidade positiva não deixa de estar ensombrada por uma debilidade estrutural: a ineficiência no uso da energia, o espantoso e irracional desperdício de recursos alegremente cometido, nos edifícios, na iluminação pública, nas empresas, mesmo no que se constrói de novo, incluindo edifícios públicos e infra-estruturas várias— sem que escapem até (pasme-se) algumas instalações dedicadas à evocação e defesa do Ambiente!
Por toda a parte, --e com honrosas excepções— o mesmo cenário irresponsável, apesar da legislação recente (aparentemente pouco observada): construção mal concebida, materiais desadequados, péssimo isolamento, má gestão do espaço— males que serão «compensados» durante décadas pela acção intensiva do ar condicionado e do aquecimento -- o que com o nosso clima parece anedota de mau gosto--; iluminação pública despesista e ineficaz; enfim— falta de aplicação das normas mais elementares da eficiência energética. Quem culparemos? Os arquitectos? Os engenheiros? Os autarcas? Os consumidores e utentes? Toda a gente?
3) «Agir sobre a procura» de energia significa ultrapassar este estado de coisas que nos empobrece.
A União Europeia dedicou atenção a este tema e quer reduzir em 20% o consumo de energia primária nos próximos anos. O Plano de Acção aprovado vincula o Estado português, que aliás já se dotou de uma estratégia para este problema. Resta aplicá-la. Mas não parece que haja suficiente empenho, esclarecimento e…energia!
Este problema tem consequências graves na economia e no Ambiente. Energia desperdiçada é dinheiro deitado fora e emissão de mais CO2 para atmosfera.
O progresso das energias renováveis só será eficaz se grande parte desse esforço não for desperdiçado em pura perda, na lógica perversa do nosso aumento anual de consumo de energia, sem paralelo na Europa nem correspondência com o nosso débil crescimento económico.
Nada disto faz sentido.
Que os projectistas de obras e edifícios celebrados não demonstrem conhecimentos nesta área, desprezando questões básicas, eis o que é difícil aceitar. A ignorância nestes assuntos será desculpável, nas profissões e funções onde mais se deveria esperar actualização de saberes? E não devia o Estado e o poder local ser exemplar e pedagógico?
Criar desenvolvimento sustentável passa por este tipo de desafios. Para uma nova relação, mais racional e harmoniosa com os recursos que utilizamos e com o mundo que nos rodeia.
Bernardino Guimarães
(Crónica publicada originalmente no Jornal de Notícias)
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