quinta-feira, março 26, 2009

SONETO DE GELASIA

Foto de Margarida Guimarães

Quem deixará do verde prado umbroso
as frescas ervas e as frescas nascentes?
Quem de seguir com passos diligentes
a solta lebre, o javali cerdoso?

Quem, com o som amigo e sonoroso,
não deterá as aves inocentes?
Quem, nas horas de sesta, tão ardentes,
não buscará nos bosques o repouso,
pra seguir os incêndios, os temores,
ciúme, iras, raivas, mortes e acidentes
do falso amor, que tanto aflige o mundo?

Do campo são e foram meus amores;
rosas são e jasmins minhas correntes;
livre nasci e em liberdade me fundo.

Miguel de Cervantes
(tradução de José Bento)

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