domingo, abril 19, 2009

A CRISE DOS SACOS DE PLÁSTICO

Imaginar o mundo sem sacos de plástico a rodos, multiformes, multicores, omnipresentes— não é tarefa fácil. Essa expressão máxima de um certo consumismo, e da produção em massa, quase não se dissocia do mundo das compras, das grandes superfícies, do acto de comprar, pagar e sair. E no exterior desses super ou hiper centros de vendas, o Ambiente paga o preço. Gratuitos para o consumidor, os sacos de plástico saem caros a todos e por muito tempo. Dificilmente degradáveis, demoram inteiros enquanto poluição, décadas a fio. Atapetam campos e ruas e praias, entopem esgotos e sarjetas, «enfeitam» e enchem os aterros, dão que fazer às incineradoras, flutuam no mar e atravancam rios.
Mas afinal, os consumidores adoram assim tanto esses sacos, como os amantes de flores esperam a Primavera, como os sonhadores anseiam pela estrela da manhã, como os autarcas veneram as rotundas? Não exageremos, que o hábito de distribuir e disseminar estes objectos é recente e bem podia ser ultrapassado.
O volume de resíduos que é gerado, a dificuldade da sua reciclagem, a contaminação duradoura dos ecossistemas, sugere a necessidade de introduzir alguma racionalidade neste desperdício. Outros países o fizeram, com sucesso. Algumas superfícies comerciais iniciaram a cobrança de um preço (dois ou três cêntimos) sobre o saco de plástico, levando à imediata redução do volume consumido. Se imaginarmos o ritmo de crescimento deste problema em Portugal e se soubermos que são por cá utilizadas umas 2000 toneladas anuais de sacos de plástico (500 mil toneladas no mundo), fica claro que algo mais deve ser feito.
Esse «algo» podia ser a imposição de uma taxa uniforme para os sacos, medida que o governo ensaiou ou chegou a anunciar. Acontece que a indústria protestou…e o ministério do Ambiente meteu a viola no saco…plástico, morrendo ao nascer a tentativa. Alegou-se que as empresas pagam já uma taxa sobre todas as embalagens, para financiamento da recolha e tratamento desses resíduos.
Mas, conforme foi explicado por um responsável da Quercus, trata-se de duas coisas distintas. Pagar a taxa para a Sociedade Ponto Verde, que é uma regra comunitária e serve para reciclar, não será o mesmo que taxar um produto no sentido de evitar a sua utilização excessiva. Seja como for, este recuo governamental, demonstra a fragilidade de quem tem hoje em mãos a tarefa de defender o Ambiente…quando confrontado com interesses particulares de vistas curtas. Diz-se que outras alternativas vão ser estudadas: a distribuição de sacos reutilizáveis ou biodegradáveis, ou a adopção generalizada pela distribuição, de um preço mínimo, capaz de dissuadir o consumo exagerado de sacos de plástico. Veremos o que acontece.
Neste caso como em tantos outros, as medidas que visam proteger o Ambiente e travar ou minorar o uso desregrado dos recursos, seguramente levantam oposição. Se sempre que as indústrias reclamaram, os governos tivessem recuado, assustados, ainda hoje seguramente não haveria leis contra a poluição dos rios ou relativas à qualidade do ar.
Cabe também aos consumidores a atitude preventiva e útil: usar sempre o mesmo saco de compras, recusar a super-oferta de plástico gratuito…e inútil.
Os cidadãos podem e devem dar as suas «ordens» ao mercado— assim como a escolha do que implica menos desperdício e poluição introduz no sistema uma indicação que as empresas não deixarão de levar em conta. É um grande erro menosprezar a força que pode ter o gesto individual e quotidiano…para o bem e para o mal!
Mesmo quando os governantes hesitam, isso pode ser decisivo!
Bernardino Guimarães
(Crónica publicada em Dezembro de 2007 no Jornal da Notícias. Infelizmente, não perdeu nada da sua actualidade.)

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