domingo, abril 12, 2009

PARDAIS, APENAS

Reparo, imaginem, nos pardais. Saltitando no solo, perspicazes e inquietos. O pardal dos telhados, o «Passer domesticus» quase não desperta estados de alma— demasiado banal e familiar. Eu acho-os fascinantes de graça e de inteligência. E recordo-me do que tenho lido sobre eles: no Reino Unido primeiro, na Bélgica e na França depois, a espécie quase desapareceu. Em Londres a pássaro ladino perdeu 90% dos efectivos nos últimos anos, dizem os cientistas. Circunspectos jornais britânicos— no «The Guardian» foi primeira página-- dedicaram muitas páginas a esta extinção anunciada (entre nós o declínio ainda não se fez sentir, aparentemente). Causas? Pois ninguém sabe. Afeiçoado aos meios urbanos, o pardal comum deve estar a sofrer as consequências de alguma disfunção ambiental, daquelas de que nem temos consciência. O que mudou para os pardais? O que estará mudando para nós, por nossa causa? Este ocaso de um dos pássaros mais familiares acompanha a severa diminuição de efectivos de muitas das espécies ditas «comuns» nos meios rurais europeus, a ponto de se falar numa possível vaga de extinções silenciosas, que não afectam os mais mediáticos animais ameaçados, mas os habitantes dos campos e da orla das cidades, até agora considerados «abundantes». Diversos factores de alteração ecológica podem estar em jogo. Falando em biodiversidade, e clima, sinais dispersos nos chegam, apelando à humildade do nosso saber. A um reencontro com a Natureza que devemos inventar.
Bernardino Guimarães

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