segunda-feira, maio 11, 2009

PORTUGAL 2050

Como será Portugal, a sua paisagem, a economia, a biodiversidade e florestas, o litoral, a agricultura, as condições de vida nas diferentes partes do território nacional, na perspectiva das alterações climáticas previsíveis? Na verdade, não sabemos. Mas é possível fazer previsões, cenários diversos consoante o nível de aumento das temperaturas médias, e assim estabelecer medidas adequadas de prevenção e adaptação que minimizem, dentro do possível, as perdas e os problemas. Primeiro torna-se necessário prever quanto aumentarão as temperaturas— há vários cenários imagináveis.
Um estudo recente indicava que o tempo mais quente e a redistribuição por estações do ano dos níveis de pluviosidade terão consequências ainda desconhecidas em toda a sua extensão. Irá a cidade do Porto, como constava desse estudo, ter o clima de Rabat hoje? Se isso for assim, que mudanças implicará na imagem da cidade, no urbanismo, na actividade económica e no turismo?
O aumento da temperatura, seguramente, vai induzir problemas nas disponibilidades hídricas, com reflexos na agricultura, no turismo, no abastecimento público urbano. A saúde humana ficará afectada, por exemplo pelas ondas de calor muito mais frequentes e demoradas ou pela disseminação de doenças tropicais em Portugal.
O aumento do nível do mar terá reflexos no recuo da costa e na submersão de zonas do território, algumas densamente povoadas ou de uso turístico. Irá agravar, mais ou menos consoante os cenários considerados, as tendências já hoje visíveis na costa portuguesa, potenciadas por graves erros no urbanismo e planeamento. Os cenários piores prefiguram a inundação de zonas urbanas consolidadas, talvez a título permanente.
Mas a paisagem portuguesa, irá mudar assim tanto?
O melhor instrumento de que dispomos para avaliar os cenários de alterações climáticas em Portugal, com diagnóstico da situação e propostas de medidas de a adaptação nos mais diversos domínios é o estudo designado por SIAM (Climate Change in Portugal: Scenarios, Impacts and Adaptation Mesures) http://www.siam.fc.ul.pt/
e dele podemos extrair ensinamentos significativos. Nas florestas e biodiversidade, a previsão para o intervalo médio de aumento da temperatura apontado pelo IPCC (ONU) refere que a produtividade florestal vai diminuir drasticamente em todo o território continental. Isso ficará a dever-se ao aumento da secura estival, sujeitando as espécies florestais a um stress hídrico considerável. Por isso, o SIAM prevê que no Sul do país a floresta existente (montado principalmente) poderá ser profunda e extensamente atingido, a ponto de as actuais superfícies florestais a sul do Tejo se tornarem zonas de matos e prados. A Norte, ocorrerá a perda dos ecossistemas mais húmidos, podendo os carvalhais caducifólios extinguir-se pelo menos nos locais onde a sua presença é marginal. Em contrapartida, os montados que hoje vicejam a sul poderão encontrar no norte zonas favoráveis.
Haverá um aumento drástico de zonas «inóspitas» com pouca biodiversidade e a desertificação física do território pode estender-se ainda mais.
O fogo será um problema ainda mais premente. Zonas que hoje são pouco afectadas pelos incêndios, como Penhas Douradas, Vila Real e Bragança talvez venham a ser palco de grandes fogos.
Há motivo para interrogação: poderão manter-se as extensíssimas matas de resinosas da zona centro do país, que agora são imagem de marca? As maiores áreas de pinheiro bravo da Europa recuarão por efeito do fogo e das doenças, e a sua rentabilidade será seriamente afectada. As plantações de eucalipto tornar-se-ão impossíveis ou pouco rentáveis em certos pontos, e a sua existência poderá traduzir-se em maior susceptibilidade ao fogo estival.
Em seu lugar poderão expandir-se espécies exóticas já hoje presentes, como as acácias e os pitósporos, e outras deverão surgir acalentadas pelo clima mais seco e quente.
O SIAM faz ainda a previsão de mudanças drásticas na biodiversidade, com possível desaparecimento das espécies animais para as quais Portugal é o limite meridional da sua área de distribuição geográfica. O impacte nas pescas oceânicas e na biodiversidade dos rios é também tratada.
Espécies ameaçadas poderão ver a sua situação piorada mas em contrapartida pode deduzir-se que certas outras, insectos, vertebrados em particular aves, ocuparão nichos ecológicos aqui, provenientes do norte de África.
Os efeitos na agricultura, com culturas tradicionais a tornarem-se difíceis e com a disponibilidade de água a diminuir, ao mesmo tempo que culturas hoje quase inviáveis em zonas com geada invernal poderão alargar as suas áreas de cultivo, deverão ter um efeito seguro, e negativo, com reflexos sérios na paisagem portuguesa.
Litoral encolhido e reorientação da ocupação humana nas zonas costeiras, aridez a sul e paisagem mediterrânica a norte, menos floresta e mais fogos, mais matos, invasoras exóticas, e floresta diferente se quisermos ter alguma, mudanças na geografia agrícola e escassez de água acentuada, principalmente a sul, serão algumas das diferenças que os olhos que virem em meados deste séculos poderão registar. O efeito destas mudanças, sem precedentes pela sua rapidez, estará longe de serem apenas visual. A nossa vida quotidiana será afectada, e tudo dependerá da forma com enfrentarmos a necessária adaptação.
A insustentabilidade de muitas práticas, florestais, agrícolas, energéticas, turísticas e urbanísticas, irá tornar-se mais nítida a cada ano que passa.
Estas transformações climáticas e na paisagem, virão a ter consequências políticas, no sentido de induzirem modificações no modelo de desenvolvimento do país e na forma como é ordenado (?) hoje o território? Ter-se-á de colocar em causa a exclusividade do litoral em termos de desenvolvimento? As cidades do interior virão a ter um outro protagonismo face à crise do litoral? Por outro lado, um sul e interior mais árido e com menos água, que poderão oferecer em termos de turismo? Não se vê que tenham muito futuro os resorts com golfe…
Resta que além de adaptação inteligente a um Portugal diferente, porventura irreconhecível, é urgente fazer tudo para combater as causas do aquecimento global, para que os cenários piores não venham a concretizar-se e seja possível adaptar-nos ao que parece já inevitável. Não esqueçamos que os países da orla mediterrânica e do sul da Europa, como o nosso, serão dos mais afectados pelo aquecimento, até pela sua já actual susceptibilidade aos fenómenos de aridez e desertificação. É muito, é dramaticamente diferente um aumento médio de 1, 5 graus ou de 4 graus, senão mais, pelo que seria trágico nada fazermos para ao menos deter a amplitude da tragédia. Em 2050, quem perdoará a nossa incapacidade de hoje?
Bernardino Guimarães

1 comentário:

  1. É de louvar a sua preocupação assim como toda a informação aqui por si relatada, penso que este tipo de informação deveria ser muito mais divulgada ao nosso povo e estar disponivel a todos, isto porque nem toda a gente tem computador e muito menos internete. Agora pergunto eu, será que chegaremos a 2050? O que vai acontecer em 2012? O nosso sol está neste momento com grandes explusões que poderão alterar muita coisa na nossa Terra tal como o campo magnético, o nuclo da terra poderá aquecer drasticamente ao ponto de toda a terra que tal qual a conhecemos deixará de existir, desde vulcões, tsunamis, terramotos, em fim uma infidavel de catastrofes, já sem falar no que está muito na moda, a profesia Maia, Nostredamos, o alinhamento galatico, etc.
    madalenagr@gmail.com

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