sexta-feira, junho 05, 2009

DIA DO AMBIENTE

Hoje comemora-se o dia Mundial do Ambiente. Apesar da mania dos dias temáticos, tantos dias e tantos temas, tanta matéria celebrada que a gente já nem liga-- não deixa de ser uma oportunidade para reflexão.
Todos reconhecemos que o Ambiente é incontornável. O que não impede muitos de o contornarem todos os dias. Por exemplo: termina a campanha eleitoral para o Parlamento Europeu e não se viu que a «agenda ambiental da Europa» tenha ocupado muito os espíritos dos nossos candidatos— com raríssimas excepções. No entanto, neste preciso momento, na velha Europa cruzam-se debates fundamentais. Querem os europeus ser a dianteira nas energias renováveis? Querem ultrapassar de vez a «era dos combustíveis fósseis» e inaugurar uma nova fase, apostando numa nova economia, mais sustentável, mais solidária, mais limpa? E a biodiversidade? E as directivas visando o controlo dos produtos químicos em circulação no mercado, contra as pressões opressivas das indústrias?
Entre outros assuntos momentosos, os alimentos geneticamente modificados, a reforma da política agrícola comum e das pescas e defesa dos recursos marinhos, as alterações climáticas na perspectiva da próxima cimeira mundial de Copenhaga? Tudo isso tem a ver com a Europa, está no centro da política europeia, e tem a ver connosco— não deixa de ser estranho que esta agenda básica mal tenha aflorado a campanha eleitoral portuguesa.
Um exemplo afinal de que comemorar o Ambiente, de vez em quando, não chega. Como não chega ter no governo um ministério do Ambiente que é um fantasma de si próprio, sem acção, sem iniciativa e sem autoridade. É preciso que essa preocupação esteja presente e se reflicta nas decisões. Quanto ao urbanismo, quanto aos transportes, quanto ao consumo, quanto à procura de outras formas de desenvolvimento que tenham como centro as pessoas e a natureza e inclua nas equações decisivas as gerações futuras.
O Dia Mundial do Ambiente, se alguma coisa for, será um tempo de interpelar a forma como vivemos, a nossa relação com o meio que nos oferece suporte de vida, como gerimos a água, a atmosfera, o solo, como organizamos a ocupação do território e a marca que deixamos com os nossos actos quotidianos.
E se pensar num mundo melhor, menos poluído, mais equilibrado, justo e racional nos parecer— ele há dias assim! — demasiado ambicioso, inacessível ou utópico, então melhor será pensarmos no que podemos fazer à nossa pequena escala, nós mesmos, sozinhos ou associados a outros, na esfera local e próxima. Ou então aproveitar simplesmente a Primavera para um olhar menos distraído sobre a cidade e o mundo que nos rodeia. Encontraremos talvez razões para sorrir, emprestadas, quem sabe, pelas formas de uma árvore, pelo canto de uma ave súbita ou pelo cheiro do mar. A serenidade— bem escasso, em vias de extinção, pode ser nossa por momentos. Será uma boa forma— talvez a melhor— de celebrar este Dia do Ambiente!
Bernardino Guimarães
Foto de Raízes.e.Asas
(Crónica emitida pela Antena 1, aqui ligeiramente adaptada, em 4/5/09)

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