segunda-feira, junho 01, 2009

MEMÓRIA: PRESTIGE

A 13 de Novembro de 2002, um velho petroleiro monocasco, de pavilhão grego, com 77000 toneladas de fuelóleo nos seus tanques, sofre um grave acidente, a 28 milhas das costas galegas do cabo Finisterra.
Acabava de produzir-se uma das maiores catástrofes ecológicas relacionadas com petroleiros, e seguramente a que mais afectou a Galiza e uma vasta extensão atlântica entre o norte de Portugal— quase milagrosamente pouco atingido— até às costas francesas.
Isto apesar de a chamada «Costa da Morte» galega ter sido palco de sete grandes derramamentos nos últimos 32 anos— o mais grave dos quais tinha sido o do « Mar Egeu», acidentado ao largo da Corunha nos anos 90.
Nesse dia fatídico um rombo no casco do Prestige derramou mais de 5000 toneladas de fuelóleo.
Em 19 de Novembro, o navio partiu-se em dois, já a 250 km da costa, para onde o tinham entretanto arrastado os meios da Armada espanhola. Nesse momento o derramamento não pôde mais ser contido. As manchas de fuel seguiram o seu caminho e em Janeiro de 2004 atingiram praias francesas.
Na costa galega, o panorama era de desolação. As praias ficaram cobertas por um manto escuro que se agarrava às rochas. Pescadores e mariscadores de uma vasta região, que incluiu as Rias Baixas e as zonas protegidas litorais, viram o seu futuro comprometido.
A 1 de Dezembro, uma gigantesca manifestação de pesar e de protesto encheu as ruas de Santiago de Compostela com o lema «Nunca Mais». A falta de medidas de prevenção deste tipo de desastres e sobretudo a pouca importância dada à catástrofe pelo Governo Regional de então, indignaram a opinião pública.
Outro aspecto marcante foi sem dúvida a solidariedade demonstrada— em poucos dias, milhares de voluntários, muitos deles de fora de – Espanha e inclusive muitos portugueses, ocorreram para o combate aos efeitos da catástrofe. As praias devastadas encheram-se de anónimos que procuravam limpar o combustível que impregnou rochas e areias, colmatando até o que foi a visível incapacidade de resposta inicial das autoridades.
Quanto ao Prestige, após ter-se partido, afundou-se, indo cair a 3 500 metros de profundidade.
Tão fundo que, para avaliar quanto do fuel remanescente estava ainda nos tanques, foi preciso a intervenção do batiscafo francês « Nautile».
O trágico naufrágio do Prestige afectou mais de 600 km de litoral, parte dele ainda hoje longe da recuperação, desde o Parque Nacional das Ilhas Atlânticas na Galiza até às costas portuguesas, das Astúrias, Cantábria, País Basco e Golfo da Viscaia até ás Landes francesas.
O Prestige terá derramado ao todo cerca de 63 000 toneladas de fuelóleo.
É impossível avaliar com segurança o impacte na biodiversidade das espécies marinhas.
O impacte económico, na pesca, no turismo, na aquacultura e captura de marisco, esse foi enorme e duradouro.

Quanto ás aves, conhece-se aproximadamente o efeito. Cerca de 40 000 aves terão sido mortas ou seriamente afectadas. Alguns milhares foram recolhidas já cadáveres e várias centenas puderam ser tratadas e salvas— também em Portugal. Algumas aves, petroleadas, lograram chegar ás costas alentejano apesar disso.
As espécies mais afectadas foram as Gaivotas, o Airo, o Ganso-Patola e a Torda-mergulheira, entre outras.
Bernardino Guimarães

Ver http://www.plataformanuncamais.org/

Sem comentários:

Enviar um comentário