
É verdade que já antes, em 1864 mais precisamente, tinha sido classificado como «reserva de recreio» o Vale de Yosemite, mas ainda sem os termos e estatuto de um Parque Nacional.
Yellowstone tinha impressionado desde o início os primeiros americanos de origem europeia que o conheceram. Este local extraordinário cativou particularmente o explorador e caçador de peles John Colter, membro da expedição Lewis-e-Clark ao Noroeste americano, até aí desconhecido, em 1804-1806. Colter, de regresso à «civilização» falou das maravilhas que tinha visto: das sequóias aos bisontes, os géisers e charcos de lama borbulhantes, sinais de actividade vulcânica. As suas descrições foram ao que parece tomadas como fantasias. Mas o tempo havia de convencer os americanos da beleza e valor de Yellowstone, destinado a inaugurar — numa perspectiva ainda conservacionista pré-ecológica — o rol imenso das áreas protegidas a nível global.
O Parque Nacional abrange agora cerca de 9 000km2, no sul da grande cadeia das Montanhas Rochosas, a sul das Grandes Cataratas, ocupando essencialmente território do Estado de Wyoming, mas também dos vizinhos Montana — a Norte — e Idaho — a Oeste.
Trata-se de um sítio invulgar a mais do que um título. Zona vulcânica, forjada por três ciclos de gigantescas erupções vulcânicas— respectivamente há 2,2 milhões, 1,2 milhões e 630 000 anos, o Parque é uma aula viva das actividades vulcânicas ao longo de 55 milhões de anos e possui por isso impressionantes manifestações geotérmicas. Lá existem 250 géiseres activos e 10 000 formações térmicas, além do lago de Yelowstone, o maior dos EUA a uma altitude de 2,375 m e com profundidade de 119 m.

Os carismáticos bisontes americanos encontraram aqui o seu derradeiro refúgio, a salvo do extermínio. O único antílope americano, a antilocapra, convive aqui com carneiros e cabras selvagens das Rochosas, várias espécies de veados, alces e toda a galeria de predadores americanos — urso pardo — o célebre grizzli — urso preto, puma, duas espécies de linces, coiotes e raposas, lontras e martas, os pacíficos castores e o raríssimo toirão-de-patas-negras. Uma formidável galeria de aves, talvez única nos EUA completa o quadro deste «reino maravilhoso» --a visão da águia-de-cabeça-branca (símbolo nacional mas que esteve à beira da extinção) do falcão-peregrino, dos perus-selvagens e dos galos do bosque não é aqui acontecimento raro. Os cisnes selvagens e os grous-americanos, sem esquecer a odisseia viajante dos gansos do Canadá oferecem momentos de raro encanto aos amadores das aves.
Em Yelowstone trabalha-se para recuperar a Natureza, reabilitando o que o Homem danificou e empobreceu. O mítico e perseguido lobo, ausente do Parque desde 1930, vítima dos caçadores, suas armas e venenos, foi reintroduzido neste imenso território a partir de 1995— um projecto coroado de êxito, porque as alcateias se restabeleceram neste oásis de bosques fundos e de nascentes termais agitadas, onde abundam as suas presas naturais e a caça é rigorosamente proibida.

Também neste território se fazem sentir os problemas do excesso de pressão humana—é dos locais mais visitados nos EUA—causadores de desgaste dos ecossistemas. Procura-se agora gerir com cuidado essa enorme afluência de turistas.
Mesmo considerando a sua grande extensão, Yellowstone é demasiado pequeno para a manutenção da biodiversidade que alberga. Um urso que passe as fronteiras do Parque depara-se com auto-estradas e fazendas de criação de gado—e com sérios problemas. Observando as mais modernas práticas de conservação, está a ser estudada a criação de «corredores verdes» que liguem o Parque Nacional a outras áreas naturais ainda existentes, permitindo a circulação e intercâmbio genético da fauna e da flora. Mas isso não é fácil, dada a enorme artificialização do território envolvente.
Património da Humanidade desde 1978, o Parque Nacional de Yellowstone continua sendo um exemplo de que é possível salvar os tesouros naturais de que somos depositários para as gerações futuras. A sorte fê-lo ser o primeiro, numa altura em que mal se falava de ecologia e predominavam os critérios estéticos e de recreio para a conservação da Natureza.
Hoje sabemos mais — salvaguardar a Natureza não é só uma questão estética, nem sequer apenas ética — é também e cada vez mais uma questão de sobrevivência para nós humanos, no único planeta onde sabemos que a vida é possível. A Terra, nossa casa comum!
Bernardino Guimarães

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