quarta-feira, julho 01, 2009

ECOLOGIA

Ecologia: «Estudo de ecossistemas. Relações entre organismos vivos, e entre estes e o seu ambiente. A Ecologia diz frequentemente respeito a princípios gerais que se aplicam tanto a animais como plantas.»
Corria o ano de 1866. O mundo científico repercutia ainda o abalo e a polémica apaixonada suscitada pela publicação de «A Origem das Espécies» o livro de Charles Darwin, sete anos antes, e contendo os princípios da sua Teoria da Evolução.
Ernest Haeckel, zoólogo alemão, era adepto fervoroso das teses darwinianas, segundo as quais o meio ambiente induz a evolução das espécies animais e vegetais por meio da selecção natural.
Haeckel pretendeu encontrar uma palavra que definisse bem e interpretasse as novas conquistas da ciência no conhecimento do mundo vivo. O termo Biologia (usado desde 1802) não podia satisfazê-lo, porque segundo ele não expressava suficientemente bem a verdadeira revolução que estava a modificar a ciência nesses dias. E propôs um neologismo que havia de fazer correr muita tinta e transformar-se numa das palavras mais pronunciadas na linguagem ambiental: Ecologia, compondo duas expressões gregas—oikos, casa, e logos , estudo ou ciência.
A Ecologia nasce assim, como designação de «ciência da casa», sendo a casa o meio e em última análise, numa interpretação mais actual, a casa comum que é o planeta Terra.
Qualquer que fosse na altura a posição entre as diferentes perspectivas na abordagem da Evolução, entre as teorias de Darwin e as do naturalista francês Lamarck (e Haeckel, como vimos, era darwinista militante),a nova palavra surgiu como uma forma de significar a importância do meio envolvente para a vida e para a adaptação / transformação dos seres vivos ao longo do tempo e das gerações.
Isto independentemente das controvérsias científicas, atravessando biologia e filosofia, sobre como se processa a evolução e que consequências isso traz sobre o papel do Homem na biosfera. Deixava de ser possível considerar uma espécie isoladamente, sem relação com os outros seres vivos e com os factores ambientais. Se uma dada espécie é influenciada pelo meio onde vive, não é menos certo que também ela influencia e molda, em maior ou menos escala, esse meio. A Ecologia apareceu logo ao início como uma ciência de relação!

Ciência da casa, sem dúvida. Esta noção (que de resto aproxima de certo modo, etimologicamente, ecologia e economia) ficou bem mais nítida muito mais tarde, na segunda metade do século XX, quando as imagens provenientes do espaço, mostrando a Terra vieram tocar os nossos olhos e corações indelevelmente – um mundo só, grandioso e frágil, pujante e complexo, pátria da vida— a única que conhecemos! — lar de toda a Humanidade e das formas de vida que connosco partilham este lugar, que afinal de contas só agora começamos a entender. Talvez as imagens dos programas espaciais tinham vindo a confirmar a intuição de Haeckel, um século depois!
O cientista alemão teve o grande mérito da invenção da palavra. Mas a «coisa» que a palavra evoca, essa, mudou bastante e veio a ter uma função social, política e cultural que o autor certamente nem sequer sonhou. A Ecologia fez um longo caminho.
Nos anos imediatos depois do «baptismo» de Ecologia, a palavra foi muito pouco utilizada, mesmo pelo seu inventor. Mais ainda: ao contrário do que parece ter sido o desejo do seu criador, o termo nunca veio a designar especificamente a Biologia darwiniana— talvez porque lhe estivesse reservado um destino bem mais amplo e abrangente.
O facto é que só em 1885— dezanove anos depois— a Ecologia foi repescada, tirada da dormência onde estava, e isso sucedeu quando um geólogo a utilizou numa das suas obras. Mas a reconsagração chegou mesmo, quando um botânico dinamarquês, Warming, publicou, em 1895 o primeiro tratado de ecologia científica, traduzido para inglês em 1909 sob o título «The Ecology of Plants». O historiador das ciências Jean-Paul Deléage disse desta obra: «foi o primeiro livro de Ecologia consciente dela mesma.»
O caminho da Ecologia tomou outros rumos. Se já no século XIX surgiram, na América e na Europa as primeiras instituições de conservação da natureza, a Ecologia ganhou força e dinamismo bastante depois, em confronto com os primeiros sinais de uma crise ecológica mundial causada por dois séculos de industrialização e de confiança cega nos ditames da técnica. O mundo gastava-se, os recursos não eram inesgotáveis. Surge o «ecologismo» movimento social, sem dúvida com base na ciência inspiradora mas ganhando foros de movimento social e até político. O combate anti-nuclear foi um dos detonadores destes movimentos.

Essa história continua nos dias de hoje— mas a consciência dos problemas do nosso planeta poluído e alterado ultrapassou o âmbito dos ecologistas, sejam cientistas ou militantes. Problema de todos, tema de cimeiras mundiais e integrante do discurso de políticos e economistas, o Ambiente e a Ecologia são um desafio permanente, ligado como poucos ao destino da Humanidade na casa ancestral que nos coube em sorte. Sabemos hoje que a nossa vida depende da relação complexa com os factores ambientais. E sabemos que o nosso poder pode ser motivo de orgulho, mas também de preocupação, porque afectamos equilíbrios que nem sequer entendemos na sua amplitude.
A Ecologia relaciona saberes num mundo de especialistas e aconselha humildade quando as conquistas da técnica parecem ter soluções para tudo. E aponta caminhos racionais. Que melhor destino para uma palavra que ganhou vida?
Bernardino Guimarães

2 comentários:

  1. Sabemos hoje que a nossa vida depende da relação complexa com os factores ambientais. E sabemos que o nosso poder pode ser motivo de orgulho, mas também de preocupação, porque afectamos equilíbrios que nem sequer entendemos na sua amplitude.
    A Terra como um Sistema , constituído por diferentes sub- sistemas , que têm que estar em equilíbrio. Se um falha, todo o sistema falha.

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  2. Ótima publicação!
    Nossa nave mãe, nossa casa, Bernardino, está ruindo porque não soubemos arrumá-la. A Ciência e a tecnologia foram avançando; a era industrial foi deixando seus rastros destrutivos e o homem- com excessão de alguns - sem humildade, empolgado com o lucro, o capital e o consumo exagerado não teve consciência dos seus atos anti-naturais.
    Andemos de mãos dadas com a Ecologia, como você nos sugere. Tenhamos esperança de que ainda aprenderemos a dimensão bio-oikos-logos.
    Regina Gaiotto - Tietê, SP - Brasil

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