
O anúncio de requalificação do Pavilhão Rosa Mota/Palácio de Cristal trouxe consigo mais desses desgostos, mesmo se a intenção em si mesma é até de saudar; mas quando se olha para o que está projectado e se situa o que são esboços em papel no terreno preciso que se pretende transformar, verifica-se claramente que há conflito, e não pequeno, entre o previsto edifício novo, anexo ao Pavilhão, e o espaço verde que há cinco décadas lá está.
É que a remodelação do Palácio surge acompanhada da construção de um complexo que ocupará partes do actual jardim, desde o Pavilhão até à Capela de Carlos Alberto, envolvendo o lago que desaparecerá na sua forma actual e criando na prática uma frente de betão num dos mais belos espaços verdes da cidade do Porto.
Diz quem sabe que uma tal construção implicará o corte de árvores, o que aparentemente contradiz as afirmações do arquitecto José Carlos Loureiro, responsável pelo projecto. Mais precisamente 13 árvores de grande porte e considerável interesse botânico e patrimonial. As obras poderão ainda afectar mais 17 árvores de igual importância.
Não sei se o Porto necessita de um centro de congressos e outros eventos, «pólo de atractividade de carácter internacional» (conforme se pode ler na revista da Câmara Municipal.) O que sei é que nada justifica amputar aqueles jardins e ocupá-los com cimento armado.
Esta tendência para, quase em permanência, os poucos espaços verdes de que dispomos serem palco de «inovações» as mais variadas e de diversas proveniências, algumas com motivações sem dúvida positivas mas deslocadas no espaço e na prática desrespeitadoras dos lugares, merece reflexão.
Serão os jardins os únicos locais com área livre e pouco dispendiosa— visto que são propriedade pública— para assentar projectos novos, para instalar equipamentos que faltam, para suprir carências urbanas? Estariam assim relegadas para a categoria pouco nobre de «zonas expectantes» ou quase, cuja função e carácter original poderia ser subvertido ao sabor das ideias e necessidades do momento.
Creio que importa rejeitar esta noção nunca assumida mas aceite e praticada de forma consuetudinária e recorrente.
Talvez fosse bom dotar os jardins, os espaços verdes públicos e os sistemas naturais urbanos de um estatuto que, sem fixar rigidamente uma norma geral de intocabilidade, protegesse essas zonas à luz de um certo «princípio de estabilidade» que vem faltando.
Em matéria de jardins, e mais ainda de jardins históricos, não são precisas muitas surpresas e reclama-se alguma segurança em termos de função, de uso e de integridade paisagística e patrimonial.
Demasiadas vezes temos lastimado intervenções mais ou menos abruptas, mais ou menos modernizadoras, que mais tarde já todos condenam— será preciso lembrar o desastre da Cordoaria?
E o mais curioso é que a Câmara tem vindo até a aprimorar a gestão dos jardins do Palácio, desde o momento em que a sua tutela passou da Porto Lazer para o pelouro do Ambiente, cessando as podas brutais das árvores e melhorando o estado daquele conjunto inestimável.
Ainda há tempo para repensar o projecto e impedir o que seria um desacerto lamentável, um passo na direcção errada.
Bernardino Guimarães
(No Jornal de Notícias de ontem dia 21 de Julho 2009)
Deixei uma ligação para este post no blog do Movimento em Defesa dos Jardins do Palácio.
ResponderEliminarhttp://defesadopalacio.pegada.net/
Unidos, conseguiremos travar mais este atentado ao património.
Quero pedir-te para assinares e divulgares a petição para um referendo local sobre este assunto, disponível em:
ResponderEliminarhttp://defesadopalacio.pegada.net/?page_id=236
1 abraço