domingo, agosto 30, 2009

AMBIENTE E ELEIÇÕES ( I)

Faz-me impressão, confesso. Os temas do ambiente, do ordenamento do território, daquilo a que se chamou nos últimos anos «desenvolvimento sustentável» não parecem merecer, por parte dos partidos políticos portugueses, mais do que umas palavras para «despachar o assunto».
É estranho; cada vez mais se nota que muitos dos atrasos e entraves que degradam e empobrecem a vida nacional se relacionam com Ambiente. Caem falésias no Algarve sobre pessoas e logo se nota a confusão das entidades «competentes», a sua ineficácia e imprevidência. Pior: revela-se o estado do litoral, como de resto de grande parte do território: entregue à cobiça e à ganância mais reles, ao avanço do imobiliário em zonas sensíveis. Nem ecologia nem segurança, nem bom-senso…só desmazelo e predomínio mais ou menos oculto de interesses particulares. A ignorância mata! E a ignorância dos mais elementares princípios de dinâmica costeira e de gestão dos riscos naturais tem consequências graves.
Uns graus a mais nos termómetros e o país arde. Já se percebeu que o dispositivo montado para o combate ao flagelo não é capaz de travar o fenómeno, apesar da intensa propaganda governamental: e as causas são estruturais e ninguém as enfrenta: falta de civismo e inconsciência, permanência de um incendiarismo atávico ampliado por interesses os mais diversos que recorrem ao crime, se necessário. Mas também falta de ordenamento e de limpeza, certamente. Só que o principal problema é a «floresta» que fomos deixando crescer ao longo das últimas décadas: péssima escolha de espécies, incapazes de resistir aos fogos, matas formadas por monoculturas de exóticas que são barris de pólvora e que o aumento previsível das temperaturas e diminuição de pluviosidade vão tornar insustentáveis a prazo ( com as alterações climáticas); matas sem viabilidade económica e ecológica, sem a necessária diversidade biológica, desadaptadas ao solo e ao clima.
Ainda por cima espartilhadas por milhares de proprietários desinteressados e ocupando o lugar que foi da agricultura, abandonada e ausente.
Um projecto para o país teria de pensar o território a longo prazo. Atapetar o país de auto-estradas não faz parte da solução de um problema que implica o despovoamento do interior e o crescimento em mancha de óleo dos aglomerados urbanos do litoral. O mundo rural tem sido desvalorizado. Os serviços que presta são esquecidos e mal tratados.
Ver na TV o espectáculo terrível dos fogos florestais é lamentável mas elucidativo: extensões de eucaliptos a perder de vista pontuados por urbanizações incaracterísticas e fora de lugar, ameaçadas pelas chamas. Haverá pior e mais realista imagem do estado da nação «real»?
Em volta das cidades, arde o que resta de verde, no meio de lixeiras e sucatas, com o espaço deixado vago pelo desaparecimento da agricultura disputado entre eucaliptos mirrados e urbanizações feias e desordendas.
Entretanto, o Estado derruba falésias— passou-se do oito ao oitenta. Depois de casa roubada… e os «buracos» existentes na confusão de planos de ordenamento sobrepostos, contraditórios e incompreensíveis, abrem alas para novos projectos turísticos, mais ocupação de falésias e areias, mais burocracia inútil que acaba aprovando tudo em nome dos «direitos adquiridos» essa farsa legal que premeia a infracção. E se a oferta for de milhões, o governo outorga o estatuto de Projecto de Interesse Nacional (os famigerados PIN) via-verde para a construção milionária em áreas «protegidas»!
A erosão faz o resto e o país encolhe. Se acontece a tragédia, ninguém sabe quem foi responsável, quem licenciou obras lesivas e que foram causa da coisa, a burocracia enrola-se sobre si mesma, protegem-se os circuitos da corrupção e do compadrio…filhos diletos da inércia administrativa e do caos político do território.
Então e as eleições? Voltaremos ao assunto!
Bernardino Guimarães

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