sexta-feira, setembro 25, 2009

AMBIENTE E ELEIÇÕES ( II)

Que amanhã seja o dia da reflexão, já que a campanha eleitoral o não foi.
A «desolação democrática» no seu melhor… e tudo parece jogado, sim, os jogos estão feitos, a comédia do poder desenrola-se, oleada pelos aparelhos mediáticos e pela máquina de criação de casos, futilidades e incidentes que inibem e substituem quase todo o debate sério.
A democracia é sobre limitação de poderes. E a escolha livre dos cidadãos deve mais do que procurar a melhor forma, ou o melhor projecto de bom governo, rejeitar e punir o mau governo. Afastar quem governa mal é ainda mais importante do que eleger quem governe bem. Porque só no final de sabe. E porque a ideia de «julgamento democrático», para ter algum significado, deve incorporar certa noção de justiça.
O Ambiente esteve ausente. Democraticamente asfixiado. Ficou em meia dúzia de linhas dos programas eleitorais. Nesse aspecto há um recuo, uma espécie de contra-reforma ambiental que segue na esteira da absoluta nulidade da acção governativa nesta área, durante os últimos 4 anos e meio. Que o fracasso e a inacção, quando não a farsa e a mentira do governo, no tocante ao que é o «desenvolvimento sustentável» não tenha motivado o esforço crítico e as propostas alternativas da oposição— com raras excepções, e parciais— eis o que me parece inquietante.
Alguém ouviu falar da corrupção associada ao «reino da construção»? E de medidas que possam estancar a expansão contínua dos perímetros urbanos— que só beneficia a máquina das grandes construtoras e as pequenas e médias «máfias» locais? A reabilitação urbana foi prioridade, assunto central, como devia ser? E sobre alimentos transgénicos e seu cultivo, qual a posição dos partidos? Políticas para o litoral, para fazer ressurgir o mundo rural, para a produção local de energia e a eficiência energética, para a adaptação e combate às causas das alterações climáticas, caso em que somos dos maiores incumpridores europeus? Cada um procure nas propostas partidárias…não seria justo dizer que o silêncio doentio afectou todos por igual, mas em vão buscaríamos estes itens no âmago sonante dos programas candidatos.
E no entanto, ela move-se! O país pode manter-se deslumbrado com o brilho das novas e inúteis auto-estradas ou o gigantismo das obras faraónicas «de Estado.» Pode Portugal ignorar a destruição aviltante da paisagem, o recuo do litoral, a degradação do património natural e da biodiversidade. Pode teimar na ausência de políticas para o ordenamento do território para além da comédia dos mega-planos que ninguém cumpre e desviar os olhos da péssima qualidade de vida nas cidades, enquanto o mundo rural agoniza na pobreza e na descaracterização. Nada disso impede que as preocupações que a nossa cegueira despreza, sejam pontos essenciais no debate político europeu e mundial. Em mais do que um sentido, a ausência do Ambiente (em sentido largo) desta campanha eleitoral reflecte bem o nosso atraso e a nossa pobreza (de espírito, que é a pior!) e nunca uma beata inclinação para o «progresso» como alguns vaticinam.
Volto ao princípio. A fraqueza daquilo que deveria ser a «sociedade civil», a falta de qualidade e de independência das elites, a dependência do Estado e de quem domina no Estado, faz com que o «país do respeitinho» acabe sendo, venerador e obrigado, o «país dos espertos». Quem se mexe, não fica na fotografia. E talvez isso explique, em parte, o silêncio de alguns ambientalistas, de parte deles em todo o caso, face à asfixia do seu tema de eleição no preciso momento em que o futuro próximo se discute.
Votar é um dever. Mas o futuro não vota.
O que podemos, apesar dos pesares, é tentar votar por ele, futuro. Olhando o passado com atenção, espírito crítico e coragem cívica. Recusando o pior, que é sempre a repetição do que sabemos mau.
Se aprendermos com este «ocaso ambiental» e dele tirarmos as lições devidas, pode ser que tudo mude em próximos episódios. Mas não é certo que isso aconteça. A reflexão, para o ser verdadeiramente, requer mais do que um dia!
Bernardino Guimarães
Foto de Alberto Guimarães

2 comentários:

  1. Não vote no GRANDE CÃO!

    Croca(dílica)

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  2. Parece que muitos, e com grandes responsabilidades, não aprendem!

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