quinta-feira, setembro 03, 2009

MEMÓRIA: CARLOS BAETA NEVES

A defesa da Natureza e o esforço para a compreensão da Ecologia na abordagem dos problemas do país e do mundo não é coisa de agora nem tão recente como é possível que alguns pensem. Aquilo a que agora chamaremos ambientalismo ou promoção da sustentabilidade deve muito a pioneiros como Carlos Baeta Neves.
Nascido a 31 de Julho de 1916 em Lisboa, Carlos Manuel Baeta Neves foi um eminente cientista e académico, um investigador qualificado que não se ficou pela solidão dos seus estudos e antes difundiu o seu saber como divulgador, autor de inúmeras obras, de palestras e conferências um pouco por todo o país.
A sua carreira académica pode considerar-se notável. Terminada a sua preparação escolar e liceal, matriculou-se em 1933 no Instituto Superior de Agronomia em Lisboa, no Curso de Engenheiro Silvicultor, que terminou em 1938, apresentando uma tese sobre Entomologia Florestal. Em 1933, ainda como aluno, foi nomeado sub-inspector fitopatológico, passando mais tarde a inspector.
A partir de 1939 exerce funções na Direcção Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas e realiza trabalho prático colaborando na elaboração dos planos de repovoamento florestal no norte do país. Em 1940 passou a chefiar a Secção Entomológica do Laboratório de Biologia Florestal da mesma Direcção Geral, onde se manteve até 1945. Simultaneamente frequentou na Universidade de Coimbra o Museu de Zoologia para obter uma especialização em Entomologia Florestal em sequência da qual se dedicou ao inventário e estudo das principais pragas florestais do Pinheiro Bravo, do Sobreiro e da Azinheira.
Doutorou-se em 1951, apresentando uma tese sobre Entomologia Florestal, obtendo assim o título de Professor agregado.
Em 1960, fez concurso para Professor Catedrático de Entomologia Agrícola, lugar que manteve até ser jubilado, em Julho de 1986, por ter atingido o limite de idade.
Teve como preocupação, muito pouco vulgar naquela época, o estudo sob o ponto de vista ecológico de assuntos que ainda não tinham merecido atenção em Portugal.
Em 1945, surge como um dos fundadores da Liga para a Protecção da Natureza, a primeira instituição criada em Portugal para a defesa do património natural, da qual veio a ser Presidente da Direcção e Sócio Honorário. Iniciou-se uma fase de divulgação de matérias que praticamente ninguém conhecia então no país, já na altura alertando contra os desvarios que em nome do progresso punham em causa o futuro de todos. Alguns dos seus textos dessa época ainda hoje podem e devem ser lidos com proveito, mantendo muita da sua actualidade e acutilância. Isto sem pôr em causa minimamente o seu trabalho científico: Carlos Baeta Neves publicou cerca de 200 trabalhos de carácter científico e cerca de 850 de divulgação, sempre sobre os temas de Silvicultura, Entomologia Florestal, Cinegética e História Florestal, Aquícola e Cinegética. Iniciou inúmeras linhas de investigação científica e apoiou sempre os jovens investigadores, aos quais comunicou o seu amor pela Ciência e o seu interesse permanente pela Natureza e pelo aproveitamento racional dos seus recursos.
Uma das preocupações basilares foi sem dúvida o desenvolvimento da Silvicultura, que pretendia adaptada às condições ecológicas e económicas de Portugal, para o que elaborou estudos sobre a fauna e flora associadas aos povoamentos florestais, insectos e pragas florestais e sua profilaxia, bioecologia e muitas outras matérias relevantes.
Foi agraciado, entre outras condecorações nacionais e estrangeiras, com o Prémio «Johann Wolfgang von Goethe» em 1989, atribuído a quem na Europa mais se distinguiu na defesa da Natureza e da paisagem.
Faleceu a 2 de Julho de 1992. A sua memória perdurará como uma das figuras mais marcantes do seu tempo e um dos que primeiro e mais arduamente meteu mãos à tarefa de «defender a Natureza»; tarefa que para Carlos Baeta Neves era um imperativo de cultura, de conhecimento e de inteligência.
Bernardino Guimarães

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