quarta-feira, outubro 28, 2009

CONSCIÊNCIA E URGÊNCIA

Um, vários «350» formados por pessoas desenhando com os seus corpos a cifra «mágica» --mas bem real. Cartazes e tarjetas com o mesmo número. Na Ponte D.Luís assim foi, e também no Padrão dos Descobrimentos em Lisboa e em mais 181 países espalhados pelo globo todo, assinalando o dia Mundial de Acção Climática. A ideia é simples e o sentimento de urgência: salvar o mundo das calamidades que os cientistas prevêem, devido às alterações climáticas.
E o 350 explica-se: trata-se de manter nesse nível o dióxido de carbono presente na atmosfera, sendo 350 partes por milhão (ppm) de CO2 na atmosfera a concentração julgada mais segura para evitar os piores efeitos do aquecimento global. Dizem os cientistas que a concentração actual é já de 390 ppm e a subir vertiginosamente!
Urgência também porque é já em Dezembro que se reúne em Copenhaga a Conferência Mundial sobre Alterações Climáticas, sob a égide das Nações Unidas com o fito de alcançar um acordo global para a redução efectiva das emissões de CO2 e outros gases de efeito de estufa. Os impasses, os egoísmos nacionais, as vistas curtas de muitos dirigentes, a pressão de lobbies que pretendem que nada mude, tudo isso não faz senão esmorecer o mais esfusiante optimista. Mas não há alternativa, nem mais tempo disponível, como lembrou há poucos dias, em discurso surpreendentemente dramático, o primeiro-ministro britânico.
A mobilização da opinião pública pode ser um estímulo e um aviso à navegação? Sem dúvida que movimentos como 350.org com iniciativas simultâneas à escala planetária têm enorme oportunidade e utilidade.
Em vão criticaremos a tibieza e mediocridade dos políticos e dos grandes agentes económicos, se não percebermos que o que está em causa é algo que diz respeito a todos, às nossas atitudes quotidianas, à organização das nossas cidades, aos nossos hábitos. Mudar de modelo energético é urgente, de facto, e nem existe vagar para transições demasiado suaves. Fazer dessa mudança (para as energias renováveis, para um novo tipo de mobilidade urbana, para melhor harmonia e racionalidade no ordenamento do território) uma oportunidade, isso depende da iniciativa da própria sociedade. As cidades e regiões que melhor fizerem a modificação do seu «modo de funcionamento», rompendo o beco sem saída da «economia carbónica», serão também as que mais facilmente prosperarão no futuro que se anuncia.
No Porto e sua Área Metropolitana, muita coisa tem sido feita. Mas será demasiado, pedir mais e melhor, mais iniciativa local pela eficiência energética, concertando os «parceiros sociais» os decisores políticos e os investigadores? Mais energia para mudar? As autarquias não podem alhear-se destes problemas, pelo contrário, e continua a ser indispensável a concertação metropolitana de medidas e acções que preparem um novo paradigma, como agora se diz. Diminuir o consumo de energia em todos os sectores, residencial e transportes, consumo e produção na lista das prioridades.
Bem se conhece que alguma coisa ficou do tempo— não assim tão distante— em que o desenvolvimento se media através dos níveis de consumo de energia— quanto maior desperdício, mais desenvolvidos seríamos! Agora é preciso fazer o mesmo com menos (energia) e produzir energia de outras fontes e com outra lógica de descentralização e sustentabilidade.
Alterámos a composição da atmosfera. Sabemos hoje o que isso nos pode custar, e talvez mais rapidamente do que se pensa.
Agir é preciso! De pouco servirá lamentarmos as hesitações dos líderes mundiais, se não formos capazes de pôr em marcha a mudança aqui mesmo, à porta de casa!
Bernardino Guimarães
(Crónica publicada no JN de 27/10/09)

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