quinta-feira, fevereiro 04, 2010

CINZAS

Antes ainda de termos Carnaval, eis que as cinzas nos preocupam. Mais precisamente, as cinzas acumuladas na desactivada Central Térmica da Tapada do Outeiro, em Gondomar. O caso foi denunciado pela Quercus e consiste nisto: As cinzas, potencialmente perigosas, que estão no aterro da Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro, podem vir a ter como destino um aterro para resíduos inertes. Como não se fez uma caracterização correcta que permita avaliar o real perigo para o ambiente, não se pode saber se essa transferência significa uma ameaça para as populações. Teme-se a contaminação das águas subterrâneas e superficiais das zonas onde vierem a ser depositados estes resíduos.
A construção da Auto-estrada A41/IC24 da responsabilidade da empresa Douro Litoral, ACE, que implica a remoção de uma grande parte do aterro da Central, onde repousam as cinzas suspeitas, trouxe a necessidade de mudar de local os resíduos. Um estudo encomendado pela empresa construtora concluiu que se trata de materiais inertes, que por isso poderão ser colocados em aterros para resíduos dessa categoria.
Mas a Quercus põe em causa a validade desse estudo, e diz saber que as amostras recolhidas foram só duas e superficiais, pelo que nada pode ter sido estabelecido com rigor. E conhece-se o potencial tóxico e a perigosidade das cinzas que resultam da queima de carvão e fuelóleo em centrais térmicas.
Assim, e uma vez mais, o ambiente e a saúde pública são relegados para segundo plano, ou mesmo esquecidos, sendo prioridade a conveniência de interesses particulares. A fiscalização por parte do Ministério do Ambiente deveria ter aqui um papel decisivo a desempenhar— é aliás esse o apelo da Quercus. Fiquemos atentos para ver o que acontece.
Outro assunto: Esta semana, no dia 2, celebrou-se o Dia Mundial das Zonas Húmidas. Lagos, estuários, pântanos e sapais, áreas de inundação temporária ou permanente, espaços de conexão entre mar e rios, entre oceano e terra firme, entre água e terra, as zonas húmidas albergam uma impressionante biodiversidade, sendo locais de vida intensa e múltipla que proporciona diversos recursos que o homem aproveita desde sempre. Mas o urbanismo selvagem e a invasão do turístico/imobiliário, a secagem de pântanos e sapais, a seca prolongada que o mau uso humano da água amplifica, põem em causa estes rincões de extraordinária riqueza.
Vale a pena, por exemplo lembrar, aqui à porta, a Barrinha de Esmoriz, tão esquecida e degradada, à espera de protecção eficaz. Sempre adiada, como acontece o mais das vezes entre nós, quando se trata do património natural.
Bernardino Guimarães
(Crónica Antena 1, em 4/2/010)

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