Com uma rosa no fundo da cabeça, que maneira obscura
de morte. O perfume a sangue à volta da camisa
fria, a boca cheia de ar, a memória
ecoando com as vozes de agora.
Onde está sentada brilha de tantas moléculas
vivas, tanto hidrogénio, tanta seda escorregadia dos ombros para baixo. Toca em
de onde rompe a rosa.
Uma criança
luciferina. A mãe fechava,
abria em torno a torrente dos átomos
sobre a cara. Aquilo que a estrangula
dos pulmões
à garganta
é a rosa infundida. Leva um braço às costas,suando, raiando
pelo sono fora. Está queimada onde lhe toca. Falaria alto
se o peso a enterrasse à altura das vozes.Via a matéria radiosa de que é feito o mundo.
A língua doce de leite,a mão direita na massa agre, o sexo banhado
no manancial secreto.O dom que transtorna a criança ardente é leve como
a respiração, leve como
a agonia.
Uma rosa no fundo da cabeça.
Herberto Hélder
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