É tão difícil, entre nós, defender as árvores dos seus inimigos, ao ponto de ser preciso heroísmo… e algum risco físico? As árvores não ficam sozinhas no chão, aquando de loteamentos e obras públicas e privadas que determinam o seu corte e morte prematura; não, porque também os que procuram defendê-las se sujeitam a maus-tratos e a provarem o pó da rua, agredidos pela intolerância dos arboricidas.
Grande nau, grande tormenta; e a notícia recente que nos deu conta de uma agressão a um cidadão que protestava contra o corte de árvores num loteamento no centro de Rio Tinto, não pode deixar de nos preocupar. O tal cidadão caiu no erro de contestar, no local, o abate de árvores antigas, num terreno que fica no desvio da rua da Ranha pela rua Amália Rodrigues, em direcção ao centro comercial Parque Nascente. Aí sucedeu o crime, que é duplo: segundo o cidadão contestatário e agredido, foram abatidos sobreiros, o que como todos sabem é ilegal, e exemplares de outras espécies incluindo um carvalho de grande porte e idade provecta. Os responsáveis da obra é que não estiveram com meias medidas, e vá de espancar o cidadão protestativo. Mártir da causa das árvores? Na verdade, custa a crer que tal coisa se conceba. Seria de esperar que já hoje fosse mais consensual a necessidade de proteger as árvores, como elementos essenciais da harmonia e beleza da paisagem, e sobretudo partes vitais do que devia ser a qualidade de vida urbana ou rural.
É a passividade que impede, tantas vezes, o protesto contra os desvarios de uma minoria voraz e boçal que devora peça a peça tudo aquilo que é bonito e útil e significativo em nome do seu e exclusivo interesse imediato.
De qualquer forma, é de saudar a coragem e a preocupação cívica de quem tenta opor-se a tais brutalidades, e com brutalidade igual é tratado.
A autarquia de Gondomar disse a um jornal que nada tinha a haver com o assunto, nem com a violência que atingiu uma pessoa nem com o corte das árvores, por ser privado o loteamento, como privada foi a agressão. Mas aqui a gente pára e pasma: então não é a Câmara, neste caso a de Gondomar, a entidade que licencia estes empreendimentos? Assim sendo, como não viu, em tempo útil e fase de projecto, que a lei de protecção dos sobreiros é—como o são as leis todas--para cumprir? E que permitir ali, daquela forma, arboricídio e desarborização, é agravar ainda mais o caos urbanístico e ambiental de uma zona fortemente degradada?
Em suma: uma agressão até agora impune e sobreiros no chão que são também crime sem castigo.
E dá para reflectir: como podemos progredir e avançar, com tais processos e mentalidades? De que serve encher a boca com ambiente, sustentabilidade e ordenamento?
As árvores, sacrificadas um pouco por todo o lado, deixam-nos. Ficamos mais pobres e mais sós. A continuarmos deste modo, a única sombra que teremos é a de uma pesada e gravosa mediocridade.
Bernardino Guimarães
(Crónica na Antena 1, em 11/2/010)
sábado, fevereiro 13, 2010
DEFENDER AS ÁRVORES
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