segunda-feira, maio 31, 2010

AFUNDAMENTO


O que está a suceder no Golfo do México, desde a explosão da plataforma petrolífera da BP, Deepwater Horizon, excede quisquer pesadelos de desastre ambiental. Vai para mês e meio que aconteceu e o buraco, situado a 1500 metros de profundidade continua a jorrar milhões de litros de petróleo por dia. Cada quatro dias o crude derramado iguala o que o famoso Exxon Valdez deixou no mar do Alaska, com as consequências que se sabe. Nas costas da Luisiana, e onde o rio Mississipi se espraia ao encontro do mar, a maré negra começa a invadir tudo. Mas a procissão ainda vai no adro. Todas as tentativas da BP resultaram em fracasso. Nada detém a fuga que ameaça eternizar-se. Qual será então a solução?Mesmo a mais cega fé nas virtualidades da técnica nos deixa inquietos.
Enquanto os santuários de vida selvagem e alguns dos mais importantes locais de nidificação e invernada de aves da América, as pescas, o turismo, a própria navegação comercial começam a sentir os pesados e negros efeitos, a BP afunda-se na sua incompetência e avidez. Afunda-se também Obama e a sua admnistração?Seria irónico que assim fosse, quando se sabe que  nunca o presidente gozou das simpatias da poderosa indústria petrolífera. Mas pode pagar o preço de não ter sido suficientemente coerente com as suas afirmações eleitorais, por exemplo quanto a medidas para travar os avanços das petrolíferas em vários pontos das costas norte-americanas.
Afunda-se com a plataforma--e com o golfo do México--a saga da extracção petrolífera no mar, que a indústria dizia ser segura e a única forma de contornar o cada vez maior esgotamento das jazidas em terra, pelo menos na América. O poder político lá foi no canto da sereia, perfurou-se sempre mais fundo e com menor segurança--e os resultados estão à vista. O pesadelo tornou-se real e ninguém sabe quando acaba.
Mas sejamos justos--os responsáveis por esta tragédia ( anunciada) são todos os fomentadores da verdaeira doença, dessa adicção letal que é a dependência dos combustíveis fósseis. Se calhar todos nós, dopados em gasolina barata, indiferentes na prática ao drama do clima que muda e dos oceanos que morrem, incapazes de recusar o modelo de desenvolvimento insustentável e insensato que nos vendem todos os dias como sendo não apenas o melhor, mas o «único».
Afunda-se nesta tragédia a era do petróleo?Antes fosse assim, mas nada é menos certo. O optimismo tecnológico a arrogância dos potentados petrolíferos, com um desastre de dimensões inimagináveis em mãos, tudo isso sofreu certamente um rude golpe!
Demasiado visível o desastre, demasido nítida a impotência para o resolver. Os aprendizes de feiticeiro recuam em desordem--mas ainda são eles os poderosos!
Como aconteceu com o Titanic, ninguém vIu o iceberg. ninguém viu o óbvio ululante. Tanto pior para todos.
As ilusões do «progresso» pagam-se caro, por vezes.
Bernardino Guimarães

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