domingo, junho 27, 2010

AO LONGE UM BARCO DE FLORES

Só, incessante, um som de flauta chora,
Viuva, gracil, na escuridão tranquilla,
—Perdida voz que de entre as maís se exila,
—Festões de som dissimulando a hora.


Na orgia, ao longe, que em clarões scintilla
E os labios, branca, do carmim desflora...
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viuva, gracil, na escuridão tranquilla.


E a orchestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,
Cauta, detem. Só modulada trila
A flauta flebil... Quem ha-de remil-a?
Quem sabe a dôr que sem razão deplora?


Só, incessante, um som de flauta chora...

                              Camilo Pessanha

2 comentários:

  1. Violoncelo

    Chorai arcadas
    Do violoncelo!
    Convulsionadas,
    Pontes aladas
    De pesadelo...

    De que esvoaçam,
    Brancos, os arcos...
    Por baixo passam,
    Se despedaçam,
    No rio, os barcos.

    Fundas, soluçam
    Caudais de choro...
    Que ruínas (ouçam)!
    Se se debruçam,
    Que sorvedouro!...

    Trémulos astros...
    Soidões lacustres...
    – Lemos e mastros...
    E os alabastros
    Dos balaústres!

    Urnas quebradas!
    Blocos de gelo...
    – Chorai arcadas,
    Despedaçadas,
    Do violoncelo.

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  2. http://recantodasletras.uol.com.br/audios/poesias/14081

    Lindo!

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