quinta-feira, junho 17, 2010

ENERGIA, SEMPRE ENERGIA


Reduzir o consumo de energia, na forma de calor, electricidade ou combustíveis, é um imperativo nacional. E global. Mas o nosso país acumula problemas nesta área sensível e decisiva: temos uma enorme dependência de energia importada ( arrasadora para as finanças públicas e causa de endividamento externo) e consumimos mais energia do que aquela de que precisamos, em pura perda num mar de desperdício e ineficácia. Todos os anos o nosso consumo de energia sobe, a um ritmo regular, sempre muito superior ao anémico crescimento económico registado, nos últimos anos sempre perto da recessão técnica ou mesmo atolado nessa situação. Significa isto que gastamos energia sem que esse gasto traduza aumento da riqueza. Para os economistas, é impossível que este não seja um factor de perda da tão almejada e propalada « competitividade», porque para cada unidade de produto gastamos mais energia do que os outros países europeus.

O desperdício campeia, impune. Existe desde há pouco tempo um Plano Nacional para a Eficiência Energética, ou seja, um instrumento do Estado para incentivar o uso racional da energia—que é afinal de contas fazer mais com menos, usando a tecnologia apropriada e tomando decisões acertadas em relação ao factor energia, nas habitações, nas empresas, nos municípios, na administração pública e nas empresas de todas as actividades económicas.
Será o Plano letra morta? Veremos. É necessária toda uma mobilização da sociedade, através de gestos simples mas significativos.
Também a estratégia nacional para a energia—neste momento em discussão pública aberta a todos—incorpora certamente este factor «eficiência», que devia ser prioritário—antes mesmo da produção de energia renovável-- mas importa que os actos correspondam às grandes proclamações.
Problema económico, o excessivo consumo de energia acarreta uma trágica factura ambiental, que se materializa em poluição de todos os tipos e em emissão para a atmosfera de gases com efeito de estufa—causadores das tão temidas e já em curso alterações do clima.
Dada a importância do tema, seria normal e salutar que fosse tomada em conta aquando das decisões em política de transportes, de urbanismo, de construção, enfim, em todos os sectores que são hoje os principais devoradores de energia --e que medidas simples e atempadas poderiam tornar em parte da solução o que hoje é parte do problema.
A desilusão vem quando se constata, por exemplo, que construções novas, até edifícios públicos são construídos ou reabilitados sem considerar a eficiência energética—no bom isolamento térmico, na circulação de ar e climatização, na própria arquitectura que dá forma ao lugar.
Lê-se a não se acredita: que as escolas que vem sendo renovadas nos últimos anos, em certos casos, consomem depois da reconstrução, até 2 vezes mais energia do que anteriormente!
Será possível? Convém esclarecer o caso, mas tudo aponta para que planeadores, arquitectos e engenheiros ignorem que o tempo do desperdício de energia acabou—que não é racional nem económico, nem admissível ignorar o que é evidente e prioritário em qualquer país—mesmo nos que são bem mais ricos do que Portugal.
Talvez a prioridade continue a ser a mudança de mentalidades e de cultura, a começar pelos que têm obrigação de saber mais e realizar com mais visão de futuro!
Bernardino Guimarães
( Crónica para Antena 1, em 17/6/010)

2 comentários:

  1. Por todas as razões, principalmente as ecológicas, e como se não bastassem ainda temos as económicas que nos alertam: "(...)o tempo do desperdício de energia acabou — que não é racional nem económico, nem admissível ignorar o que é evidente e prioritário em qualquer país — mesmo nos que são bem mais ricos do que Portugal."!!!!

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  2. É verdade. As escolas da parque escolar são uma ruína em termos energéticos para o executivo da escola e, claro, para o ambiente. sei do que falo. Tenho conhecimento de uma escola em Lisboa com um impressionante parque verde ( uma antiga quinta centenária) com uma ou mais centenas de pinheiros manso de copa frondosíssima, plátanos centenários, palmeiras, etc. Arrasaram tudo.
    Fizeram uns mamarrachos com ar condicionado e equipamento térmico cujos consumos são elevadíssimos. Uma escola virada a sul banhada pelo sol o ano inteiro. Percebe-se? Bora lá construir mais uma barragem! I. Santos

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