sexta-feira, julho 23, 2010

NÃO ME SINTO MUDAR

Não me sinto mudar. Ontem eu era o mesmo.
O tempo passa lento sobre os meus entusiasmos
cada dia mais raros são os meus cepticismos,
nunca fui vítima sequer de um pequeno orgasmo


mental que derrubasse a canção dos meus dias
que rompesse as minhas dúvidas que apagasse o meu nome.
Não mudei. É um pouco mais de melancolia,
um pouco de tédio que me deram os homens.


Não mudei. Não mudo. O meu pai está muito velho.


As roseiras florescem, as mulheres partem
cada dia há mais meninas para cada conselho
para cada cansaço para cada bondade.


Por isso continuo o mesmo. Nas sepulturas antigas
os vermes raivosos desfazem a dor,
todos os homens pedem de mais para amanhã
eu não peço nada nem um pouco de mundo.

Mas num dia amargo, num dia distante

sentirei a raiva de não estender as mãos
de não erguer as asas da renovação.
Será talvez um pouco mais de melancolia
mas na certeza da crise tardia
farei uma primavera para o meu coração.


                    Pablo Neruda, in 'Cadernos de Temuco'

2 comentários:

  1. ;) lembraste um dos meus favoritos ;)

    Quero apenas cinco coisas..
    Primeiro é o amor sem fim
    A segunda é ver o outono
    A terceira é o grave inverno
    Em quarto lugar o verão
    A quinta coisa são teus olhos
    Não quero dormir sem teus olhos.
    Não quero ser... sem que me olhes.
    Abro mão da primavera para que continues me olhando.

    Pablo Neruda

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  2. Mas num dia amargo, num dia distante

    sentirei a raiva de não estender as mãos
    de não erguer as asas da renovação.
    Será talvez um pouco mais de melancolia
    mas na certeza da crise tardia
    farei uma primavera para o meu coração.

    Que a primavera se inicie....neste dia tão importante para o Peregrino.

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