sábado, julho 17, 2010

VIDA DIVERSA


A prova de que a biodiversidade ( diversidade das espécies animais e vegetais, mais variabilidade genética das espécies, mais a diversidade dos ecossistemas), a prova de que esse conceito deveria ser mais considerado na vida social e económica, é afinal esta: quando a vida silvestre deserta e desaparece de um local, de um ecossistema, isso geralmente implica que o meio se tornou hostil também para o homem e nele a vida e actividades humanas deixaram de ser possíveis. Tomemos um rio, antes pujante de vida e de variedade, rico e capaz de gerar equilíbrios que perpetuam a vida; e pensemos nesse rio a partir do momento em que se torna contaminado, poluído. O oxigénio rareia, as plantas aquáticas deixam de existir, altera-se a cadeia alimentar porque vários elos dessa cadeia simplesmente se extinguem. A água turva deixa de poder albergar muitas formas de vida, desde os micro-organismos até aos peixes e anfíbios; os insectos são afectados e apenas sobrevivem algumas espécies muito adaptativas e resistentes, que proliferam, assim como algumas plantas e organismos simples, como bactérias, que tomam o lugar dos habitantes tradicionais desse rio hipotético. A prazo, deixa de haver condições para que os seres humanos aproveitem o curso do rio para seu benefício, como certamente antes faziam: nem prática balnear, nem pesca, nem observação e fruição da paisagem, muito menos utilização das águas, agora sujas e letais. Nem sequer passeio nas margens que foram talvez bucólicas e repousantes, pois é provável que produtos químicos poluentes e bactérias se encarreguem de fazer sentir um odor pouco recomendável. Resumindo, o rio morto de vida, de biodiversidade, morto está para a vida dos homens.

E assim poderíamos continuar, qualquer que seja o tipo de meio que quisermos considerar.
Das espécies selvagens nasceu a agricultura, que ainda hoje precisa do potencial genético silvestre para enriquecer e fortalecer os cultivos cada vez mais uniformes que asseguram a nossa alimentação. E muitas plantas do monte ou da selva, discretas ou faíscantes de beleza, são ou serão a base dos medicamentos de que nos servimos.
Já nem se fala da beleza—de que necessitamos cada vez mais, e que só a Natureza nos empresta e renova, do valor da paisagem que é difícil contabilizar, da importância cultural e estética e ética da preservação da vida que nos acompanha nesta viagem fascinante e complexa na « Nave Espacial Terra.»
Sem biodiversidade, a nossa sociedade empobrece. Os insectos polinizadores, que garantem o êxito da agricultura, os vermes que enriquecem os solos e os regeneram, as árvores que capturam dióxido de carbono e devolvem oxigénio, a vida marinha e todos os seus recursos vivos, tudo isso e muito mais não pode ser considerado coisa adquirida, que sempre teremos. A destruição da Natureza implicará sem dúvida um mundo mais pobre, mais duro e mais estéril.
Também nas cidades precisamos da biodiversidade e de a valorizar. Mas este assunto está na cabeça de quem nos governa e administra a cidade? Deveria estar no centro de uma estratégia para as cidades, mais em harmonia com a Natureza e por isso mais amigáveis para quem nelas vive e trabalha.
Bernardino Guimarães
( Crónica na Antena 1, em 15/7/010)

3 comentários:

  1. É triste saber que, infelizmente, o mundo está voltado para o consumismo e esquece-se do poder da natureza! É, para já, uma realidade dura que vamos enfrentando... mas até quando?
    É caso para "brincar" um pouco com a Bio diver cidade... a biologia nas diversas cidades...

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  2. Por isso é que nas Câmaras devia haver técnicos desta área e não somente engenheiros civis e arquitectos.

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  3. "Já nem se fala da beleza—de que necessitamos cada vez mais, e que só a Natureza nos empresta e renova, do valor da paisagem que é difícil contabilizar, da importância cultural e estética e ética da preservação da vida que nos acompanha nesta viagem fascinante e complexa na « Nave Espacial Terra.»
    Sem biodiversidade, a nossa sociedade empobrece"
    Ética ....também nos relacionamentos entre os Homens....que cada vez é menor..

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