sexta-feira, setembro 17, 2010

EVIDÊNCIAS

Parece que um dos mais mediáticos cépticos, ou « negacionista» da tese as alterações climáticas, o dinamarquês Bjorn Lomborg, que durante os últimos anos passou a vida denegrindo os que alertavam para a acção humana como causa do aquecimento global, esse céptico…deixou de o ser! Mudou de ideias e veio agora a terreiro advogar uma acção enérgica no sentido do combate às mudanças climáticas, ou seja, às emissões de dióxido de carbono e de outros gases que provocam o problema. Claro que, para os ambientalistas (e para a maior parte da comunidade científica), Lomborg não tem o mínimo de credibilidade para ser a favor ou contra do que quer que seja, já que o acusam de agir ao sabor de mera vontade de protagonismo, ou até ao serviço de muito poderosas, endinheiradas…e poluentes indústrias mundiais!
De qualquer modo, esta «mudança de campo» pode ser entendida como uma certa forma de rendição, mesmo por parte dos mais cépticos, às evidências de mudança no clima e por via dele, nos ecossistemas e no modo de vida das nações.
Talvez a realidade, disponível para qualquer cidadão nos abundantes noticiários, (e que este Verão foi particularmente impressionante!) se esteja a impor a todos, o que pode ser bom augúrio—temos daqui a poucos meses a cimeira mundial da Cancun, onde se irá tentar relançar o que em Copenhaga foi impossível erguer: um acordo global para a redução das emissões dos chamados «gases de efeito de estufa», para substituir o protocolo de Quioto, que atinge o fim do seu prazo de validade.
Optimismo a mais, tendo em conta a enormidade do problema e a fortaleza dos interesses contrários?
As evidências empíricas e facilmente verificáveis são muitas e todos as vimos correr nas parangonas: 40 graus em Moscovo, a floresta boreal russa ardendo e com ela os campos de trigo da Rússia e da Ucrânia; chuvas fortes e cheias em Agosto na Alemanha e Polónia, com consequências devastadoras; chuvas de monção particularmente abruptas no Paquistão, com milhões de desalojados; seca na América do Norte, no Brasil, em África, etc, etc. Este Verão pode ter sido o mais quente desde que há registos e em Portugal o aumento médio da temperatura nos últimos anos ultrapassou a média de subida europeia e mundial.
Também estudos científicos afiançam que o aquecimento é uma realidade, e que o seria no futuro próximo, mesmo que a emissão de CO2 parasse neste momento.
Daí que, no momento em que os céptico mais céptico, e mais «celebrado», muda de opinião e passa a ser crente ( mesmo que seja por motivos menos nobres) talvez seja altura de levarmos a sério os cientistas. Teremos de nos adaptar a um mundo com clima mais incerto…e fazer já agora, hoje, alguma coisa para evitarmos catástrofe ainda pior nas próximas décadas!
Bernardino Guimarães
( Crónica para Antena 1, em 16/9/2010)

2 comentários:

  1. Não tenho particular simpatia pelo Lomborg mas a verdade é que apesar das suas inúmeras incorrecções ele NUNCA foi céptico em relação ao aquecimento global antropogénico.

    A ideia de Lomborg que está na base dos seus erros e das críticas por parte dos climatologistas é de que o AGA não é tão grave como isso, ou pelo menos não prioritário, o que supostamente colocaria em risco a luta contra a fome e pobreza.

    Tal como os seus textos polémicos anteriores a esta mudança de postura (não de ideias), isto destina-se a dar novo alento ás suas milionárias vendas de livros e conferências, que de certeza irá ganhar, após esta publicidade gratuita recente.

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  2. A recolha de novos dados, permite aos cientistas reformularem as suas hipóteses. Espero , que as medições que estão a ser realizadas, permitam ajudar a traçar novos rumos na luta contra o aquecimento global.
    Relativamente ao que referes sobre as causas do Peregrino,quero dar-te os parabéns, digno de um poeta.

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