Já as lustrais águas da noite me absolvem
das muitas cores e das muitas formas.
Já no jardim as aves e os astros exaltam
o regresso ansiado das antigas normas
do sonho e da sombra. Já a sombra selou
os espelhos que copiam a ficção das coisas.
Melhor disse Goethe: o próximo afasta-se.
Essas palavras condensam todo o crepúsculo.
No jardim as rosas deixam de ser as rosas
e querem ser a Rosa.
Jorge Luís Borges (in Os Conjurados)
terça-feira, novembro 02, 2010
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O sonho comanda a vida, o crepúsculo torna-a mais bela.
ResponderEliminarArte poética
ResponderEliminarJorge Luis Borges
Olhar o rio feito de tempo e água
E recordar que o tempo é outro rio,
Saber que nos perdemos como o rio
E que os rostos passam como a água.
Sentir que a vigília é outro sonho
Que sonha não sonhar e que a morte
Que nossa carne teme é esta morte
De cada noite, que se chama sonho.
Ver no dia ou no ano um símbolo
Dos dias do homem de seus anos,
Converter o ultraje dos anos
Em música, rumor e símbolo,
Ver na morte o sonho, no ocaso
Um triste ouro, como a poesia
Que é imortal e pobre. A poesia
retorna como a aurora e o ocaso.