sexta-feira, março 27, 2009

EM ANO DE ESCOLHAS

Foto de Raízes.e.Asas

Os estudos de opinião revelam, em Portugal, uma forte e crescente sensibilidade para o Ambiente e uma consciência significativa das disfunções ecológicas no nosso país e no mundo. A crermos nestas «ferramentas de trabalho» os problemas ambientais deveriam obter resposta, na agenda política local e nacional.
Há quem desvalorize tais indicadores. Muitos cidadãos parecem professar uma espécie de ambientalismo confidencial, em sintonia com o que se julga ser socialmente aceitável, mas essa consciência não praticante acaba por ter pouca repercussão nas suas atitudes quotidianas e pesa ainda menos nas suas escolhas políticas. Será assim?
Pelo menos podemos supor que a «classe» política parte desse princípio.
Não há, nas prioridades políticas enunciadas, nacionais e autárquicas, senão ténues vislumbres de atenção ao Ambiente— se pensarmos em coisas «concretas e definidas»!
A crise económica, ou melhor a crise financeira internacional que veio juntar-se aos nossos problemas endémicos e já antigos— ainda mais veio acentuar esta distância entre a consciência da importância e gravidade dos problemas ambientais e o discurso dominante.
Como já temos dito, o problema é separarmos a crise económica da crise ecológica global, e a verdade é que se trata de duas realidades não apenas coexistentes mas relacionadas. A solução será, necessariamente, procurar a saída da depressão económica e do caos dos mercados financeiros através de medidas e de mudanças que ajudem a resolver também as ameaças que pendem sobre o nosso próprio suporte de vida básico.
Os cientistas alertam para os perigos do aquecimento global e para o facto de as suas consequências serem ainda mais gravosas, (com os dados que se vão revelando) do que aquilo que se pensava: afinal o dito «alarmismo», se pecou, foi por defeito.
A escassez de água e a desertificação, a perda de biodiversidade, a destruição do solo arável, a deterioração da qualidade de vida nas cidades, são temas que não podem estar longe das preocupações políticas— sob pena de serem fúteis e enganadoras as prioridades anunciadas!
No nosso país não se vê ainda um movimento de opinião consistente, mobilizador, que proponha concretamente linhas de conciliação entre economia e ecologia, rompendo o dilema falso da opção entre desenvolvimento económico e sustentabilidade, entre progresso e defesa da Natureza.
Não estará na altura de esse movimento se forjar, interpelando os agentes políticos, indagando das suas intenções, sugerindo mudanças e novos caminhos? Ou 2009, ano de todas as eleições, será o ano de todos os silêncios e de todas as resignações? Fica o apelo!
Em França, a persistência de um ambientalista, Nicolas Hulot— uma das figuras mais credíveis na opinião francesa— à frente de um movimento cidadão, colocou os temas do Ambiente na agenda partidária e nas eleições presidenciais, forçando definições e suscitando debates durante a campanha, culminando no «Pacto Ecológico» que foi assinado por todos os candidatos. Compromissos sérios que estão dando os seus frutos!
Vencer a timidez e a passividade, ultrapassar o situacionismo medroso e avançar com rigor para o terreno cívico— não aceitando o sequestro, pelos aparelhos partidários, das escolhas decisivas que a todos dizem respeito: um desafio a lançar, à escala nacional como ao nível local.
Aquilo a que chamei «República dos loteamentos» não consegue esconder a sua decadência.
Revigorar a democracia com novas propostas de participação e transparência e levar o desenvolvimento sustentável e a crise ecológica para o centro do debate político, nunca será tarefa fácil. Mas existe outro caminho?
Bernardino Guimarães
( Crónica publicada no Jornal de Notícias, a 17 de Março 2009)

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