Para quem tivesse dúvidas: o ar do Porto— e certamente de boa parte da Área Metropolitana— é perigoso para a saúde. Como não é viável colocar, visível e a negro, em todas as ruas, avisos que digam «respirar pode ser causa de cancro», mais vale reflectirmos sobre o caso e suas causas.
O tipo de urbanismo que vigora desde há muito tempo, o domínio absoluto do automóvel e a falta de consideração dos factores ambiente e saúde quando se trata de «fazer cidade», estão na origem deste problema. Não sendo— longe disso— exclusivo da cidade e metrópole portuense, também parece insensato que se ignore ou tente disfarçar a realidade. Enterrar a cabeça na areia— como erradamente se diz ser atitude das avestruzes— não é boa ideia. Sobretudo quando nos apercebemos que as ruas e avenidas urbanas são os locais mais prováveis para que a nossa saúde seja afectada no simples acto de encher os pulmões de ar!
Um estudo feito na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, divulgado recentemente, incidiu precisamente sobre a influência do tráfego automóvel e de outros factores, como o tabaco, nas concentrações de partículas no ar. O trabalho teve como referência a zona de Paranhos e as suas conclusões são preocupantes. Mostra como, nas zonas de maior tráfego automóvel, se verifica um aumento das substâncias cancerígenas que atinge os 3500 por cento, o que é notável, sobretudo porque também se regista que o aumento é mais significativo no caso das partículas de menores dimensões «que são as que têm piores efeitos na saúde», segundo afirmou a docente da FEUP e coordenadora do estudo, Conceição Alvim Ferraz. Esta contaminação é comparada com as dos locais fechados sobrecarregados com fumo de tabaco— mas desses é possível agora fugir, o que evidentemente não acontece com a poluição das artérias citadinas, onde não há opções!
Já se sabia que as partículas em suspensão, inaláveis, que não vemos nem sentimos directamente, são uma pesada causa de morte em muitas regiões fortemente urbanizadas e automobilizadas na Europa e pelo mundo fora; esta é uma das razões para que sejam estabelecidas regras de contenção do trânsito automóvel nas cidades, a par com a emissão de CO2 (dióxido de carbono) que é causa do aquecimento global e pode ser considerada uma ameaça à escala planetária.
(Diga-se que existem outras e graves fontes de poluição atmosférica no Grande Porto. Merecem outra crónica!)
Temos aqui um duplo problema, sentido em termos globais com a mudança acelerada do clima e na esfera local e próxima com danos sérios à saúde pública. Mesmo os progressos na concepção e funcionamento dos motores não trouxeram grandes alterações, pois se é certo que os automóveis de hoje, em média, poluem menos do que os que circulavam há 20 anos, o aumento do número de carros encarregou-se de anular esse efeito positivo da evolução tecnológica.
Na região do Porto, o surgimento e expansão do Metro foi a única boa notícia, mas a actual quase paralisia da sua expansão lógica e a falta de coordenação com outro tipo de transportes públicos impede o aproveitamento cabal das suas potencialidades.
Aliás, há alguns anos, com a supressão dos tróleis e de linhas de eléctrico deu-se o «sinal errado» --verdadeiro crime de lesa-cidade!
Fica o cidadão a saber: respirar é perigoso! E se é urgente que vejam a luz do dia políticas de substituição desta ditadura do automóvel, também as mentalidades devem mudar. Automóvel nas cidades não induz progresso; nem pode continuar a ser ícone de afirmação pessoal e de prosperidade.
Precisa-se de cidade com ar respirável, energeticamente sustentável e com mais espaço para as pessoas!
O tipo de urbanismo que vigora desde há muito tempo, o domínio absoluto do automóvel e a falta de consideração dos factores ambiente e saúde quando se trata de «fazer cidade», estão na origem deste problema. Não sendo— longe disso— exclusivo da cidade e metrópole portuense, também parece insensato que se ignore ou tente disfarçar a realidade. Enterrar a cabeça na areia— como erradamente se diz ser atitude das avestruzes— não é boa ideia. Sobretudo quando nos apercebemos que as ruas e avenidas urbanas são os locais mais prováveis para que a nossa saúde seja afectada no simples acto de encher os pulmões de ar!
Um estudo feito na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, divulgado recentemente, incidiu precisamente sobre a influência do tráfego automóvel e de outros factores, como o tabaco, nas concentrações de partículas no ar. O trabalho teve como referência a zona de Paranhos e as suas conclusões são preocupantes. Mostra como, nas zonas de maior tráfego automóvel, se verifica um aumento das substâncias cancerígenas que atinge os 3500 por cento, o que é notável, sobretudo porque também se regista que o aumento é mais significativo no caso das partículas de menores dimensões «que são as que têm piores efeitos na saúde», segundo afirmou a docente da FEUP e coordenadora do estudo, Conceição Alvim Ferraz. Esta contaminação é comparada com as dos locais fechados sobrecarregados com fumo de tabaco— mas desses é possível agora fugir, o que evidentemente não acontece com a poluição das artérias citadinas, onde não há opções!
Já se sabia que as partículas em suspensão, inaláveis, que não vemos nem sentimos directamente, são uma pesada causa de morte em muitas regiões fortemente urbanizadas e automobilizadas na Europa e pelo mundo fora; esta é uma das razões para que sejam estabelecidas regras de contenção do trânsito automóvel nas cidades, a par com a emissão de CO2 (dióxido de carbono) que é causa do aquecimento global e pode ser considerada uma ameaça à escala planetária.
(Diga-se que existem outras e graves fontes de poluição atmosférica no Grande Porto. Merecem outra crónica!)
Temos aqui um duplo problema, sentido em termos globais com a mudança acelerada do clima e na esfera local e próxima com danos sérios à saúde pública. Mesmo os progressos na concepção e funcionamento dos motores não trouxeram grandes alterações, pois se é certo que os automóveis de hoje, em média, poluem menos do que os que circulavam há 20 anos, o aumento do número de carros encarregou-se de anular esse efeito positivo da evolução tecnológica.
Na região do Porto, o surgimento e expansão do Metro foi a única boa notícia, mas a actual quase paralisia da sua expansão lógica e a falta de coordenação com outro tipo de transportes públicos impede o aproveitamento cabal das suas potencialidades.
Aliás, há alguns anos, com a supressão dos tróleis e de linhas de eléctrico deu-se o «sinal errado» --verdadeiro crime de lesa-cidade!
Fica o cidadão a saber: respirar é perigoso! E se é urgente que vejam a luz do dia políticas de substituição desta ditadura do automóvel, também as mentalidades devem mudar. Automóvel nas cidades não induz progresso; nem pode continuar a ser ícone de afirmação pessoal e de prosperidade.
Precisa-se de cidade com ar respirável, energeticamente sustentável e com mais espaço para as pessoas!
Bernardino Guimarães
(Crónica publicada no Jornal de Notícias)
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