Fala-se de Ambiente, de Ecologia, de desenvolvimento sustentável, durável? Muito bem, ainda bem. Fala-se demais, a propósito e a despropósito? É um problema. O jornal «New York Times», outro dia, queixava-se (dando eco a uma preocupação que aumenta) do «ruído verde» (green noise), entendido como uma «cacofonia criada pelo excesso de informação ecológica que pode transformar uma ida ao super-mercado num exercício matemático que está muito para lá de fazer as contas ao que se compra.» Embora não pareça ser caso para drama, o circunspecto diário pode ter alguma razão: se o consumidor quer diminuir o impacte ecológico do seu consumo, como é necessário e indispensável, é preciso que esteja na posse da informação básica, sintética e clara, dispensando-se o pormenor que complica e os dilemas de resolução demasiado complexa, quando é preciso agir depressa, no afã do dia-a-dia. Escolher o que se compra é importante. Produtos menos contaminantes. Compras de preferência com origem local, evitando o transporte dispendioso em energia. Menos embalagens. Preferir materiais recicláveis e /ou reutilizáveis. Dar atenção à rotulagem.
Tudo isto é já muito. Como alguém disse sobre este assunto, o essencial é mesmo só comprarmos aquilo de que realmente precisamos.
Admite-se que, com recta intenção de esclarecer e ajudar, possa haver excesso de informação que apenas torna pouco aliciante a concretização da boa vontade inicial do consumidor que quer ser cidadão.
Mas outro problema, esse bem mais complicado, se agiganta: são hoje tantas as empresas e produtos a reclamarem a sua bondade «ecológica», o seu menor impacto na natureza, que o consumidor duvida. E duvida bem: é esse o «ruído verde» que mais nos deve preocupar. A corrida à titularidade ambiental, a profusão de mercadoria «boa para o ambiente» está a criar uma fundada dificuldade na separação (e reciclagem?) do trigo e do joio, operação que uma publicidade insidiosa e eficaz torna cada vez mais complexa. Um dado produto é «menos» poluente na sua fabricação? Outro faz corar a concorrência com a sua «performance» sustentável?
Só um eficaz e sóbrio sistema de certificação pode ajudar-nos na destrinça. Muito gato por lebre se vende por aí…e o Ambiente não ganha nada com isso.
Não se infira que tudo são ledos enganos. Há esforços assinaláveis de muitas empresas. O problema é que, para lá do «ruído verde», abunda por aí a «lavagem verde» (greenwashing), que faz de empresas predadoras, muitas delas à escala global, campeãs instantâneas do ambientalismo. Os instrumentos destas metamorfoses são geralmente os «Relatórios de Sustentabilidade» (mesmo quando, bem lidos, são mera listagem de lugares comuns) e as «campanhas ambientais» financiadas com desvelo— e que até podem ter útil efeito, mas resultam de facto no «esverdeamento» da actividade geral e primordial da empresa ou empresas. Trata-se efectivamente de uma forma de «blindagem» que procura ocultar mais do que contribuir.
Bem podíamos ainda, nesta floresta de equívocos, incluir, por exemplo, certas atitudes de responsáveis políticos e a acção da autarcas e governantes. De que vale inaugurar um jardim, se no mesmo dia se legalizam loteamentos em áreas que eram verdes ou se força a desanexação de reserva ecológica e agrícola? Cuidado, pois, com as imitações, entre ruídos e lavagens…de consciências!
Importante é a atenção que devemos dar a tudo isto. Não causa surpresa ver também o Ambiente sofrer os efeitos de alguma hipocrisia. Sobre as formas de disso nos defendermos, valerá a pena falar em outra crónica.
Bernardino Guimarães
(Crónica publicada no Jornal de Notícias em 2/9/2008)
quinta-feira, abril 02, 2009
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