domingo, maio 24, 2009

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

Preocupação ambiental maior do nosso tempo, as alterações climáticas estão a manifestar-se perante os nossos olhos—já não se trata de prever se vão ou não dar-se, e o aquecimento global é um facto para lá de qualquer dúvida.
Desde há uns 150 anos, a actividade humana, no dealbar do que se chamou «Revolução Industrial» aumentou exponencialmente as emissões de CO2— dióxido de carbono— por via da utilização massiva do carvão e do petróleo como fontes de energia.
Esse aumento estará a progressivamente aumentar a camada atmosférica de gases que «aprisiona» a radiação solar que deveria sair para o espaço após «tocar» a superfície terrestre. É a essa retenção anormal de calor na atmosfera terrestre que se chama «efeito de estufa». Os cientistas dizem que nos últimos 50 anos se registou um aumento da temperatura média mundial da ordem dos 0,6 graus— sendo esta mais sensível nuns sítios e menos em outros--os pólos têm sofrido um aumento maior. Parece pouco, mas não é. Até porque os cientistas que elaboraram os estudos que estiveram na base da Convenção--Quadro da ONU sobre Alterações Climáticas, previram, já em 1992, um aumento entre 1, 5 e 6 graus médios até ao final do século. Muitos consideram que é uma estimativa moderada. Mas mesmo a crer nela, bastará um aumento de 2, 5 graus, a meio do intervalo da previsão, para que ocorra uma mudança radical e espectacular no quadro de vida no planeta Terra. Derretimento quase total de extensões de tamanho continental de gelos— Antártida, Gronelândia, glaciares de montanha, tundra euro-asiática e norte-americana. Subida exponencial dos níveis dos mares, cheias, mudança das correntes oceânicas, fenómenos atmosféricos imprevisíveis, secas, inundações, problemas de inviabilidade da agricultura, carências de água e efeitos graves na biodiversidade.
Em relação à agricultura, só como exemplo, refira-se que um aumento de temperatura média local de 1grau pode levar à perda de 32% da colheita brasileira de café e um aumento de 3 graus a reduções de produção de 58% no café, 20% no arroz e 11% no feijão ( pesquisa revelada pela revista «Veja».)
75% das emissões de CO2 de origem antropogénica (humana) têm origem no uso de petróleo, carvão e gás natural, os combustíveis fósseis. O resto virá das alterações no uso do solo, mineração, fogos florestais, criação de gado e transportes.
Mas o CO2, sendo o principal, não é o único mau da fita. Há outros. Para só citar os mais importantes gases de efeito de estufa (GEE): metano, óxido nitroso, hidrofluorcarbonetos (HFCs) perfluorcarbonetos, hexaflureneto de enxofre e ozono (troposférico).
Desde 1750, as emissões de metano terão aumentado 151% e um dos maiores receios dos cientistas é a possibilidade, ainda não provada, de que o derretimento dos gelos em redor dos pólos possa «libertar» quantidades imensas de metano aí confinado há milhares de anos— isso poderia levar a uma potenciação brutal do efeito de estufa, talvez provocando uma muito rápida mutação climática.
Os sumidouros de carbono, que retêm o carbono e o transformam durante o processo de fotossíntese, são as plantas verdes, antes do mais— e daí a importância da preservação das florestas, em especial as antigas. Mas esta certeza altera-se se pensarmos na floresta que arde— deixa de reter carbono e a sua matéria transfere-se para a atmosfera— sob a forma de CO2.
Nos últimos anos, têm-se estudado e destacado o papel primordial dos Oceanos na retenção de carbono e em geral no estado do clima mundial.

O alarme geral das alterações climáticas soou— e alguma coisa se tem tentado fazer para deter e prevenir o fenómeno já sensível hoje em todo o mundo. Este caso chamou a atenção para o pouco que sabemos sobre a Terra, os seus processos que têm assegurado a manutenção da vida. Um acréscimo de humildade que é saudável. Ao mesmo tempo, outras ciências, como a História, vêm ajudar à compreensão de como as civilizações dependem dos fenómenos climáticos e de como estes interferem nos eventos históricos.
Sabe-se que o clima nunca foi estável—é composto de mudança constante ao longo do historial do planeta. Aos períodos frios e secos sucederam tempos quentes e húmidos. Fenómenos como vulcões em erupção podem ser factores de alteração. A última Idade do Gelo acabou há uns 40 mil anos, quase subitamente, sem que se saiba bem porquê. Muito mais tarde, deu-se na Europa um período muito frio, entre os séculos XIV e XIX, a que se chamou a «pequena Idade do Gelo» --não foi assim há tanto tempo. Conhece-se o caso do ano de 1816, o ano sem Verão, que foi muito frio na Europa toda—gerando grandes problemas sociais-- e que hoje está a ser relacionado com a erupção de um vulcão na Indonésia, cujas imensas cinzas podem ter ocasionado uma «cortina» travando os raios solares.
Os historiadores, estão convencidos que o tempo mais frio pode ter acelerado a queda do Império Romano, com a fome no norte e centro da Europa a conduzir milhões de pessoas para as fronteiras romanas.
A Convenção Quadro das Nações Unidas sobre alterações Climáticas foi adoptada na Cimeira da Terra no Rio de Janeiro em 1992. Entrou em aplicação em 1994. Foi assinado por 180 nações.
Daí resultou o Protocolo de Quioto, que assume compromissos de redução dos GEE e prazos de implementação. A Cimeira de Quioto foi em 1997, mas o Protocolo aí surgido só entrou em vigor em 16 de Fevereiro de 2005, mesmo assim sem a subscrição dos Estados Unidos, que produz 25% da poluição, e de estados em grande crescimento económico como a China e a Índia.
O Protocolo define metas concretas—que os cientistas acham insuficientes.
Redução de GEE em 5% entre 2008-2012 com referência a 1990. Alguns acham que se fosse cumprido, essa pequena redução poderia fazer diminuir a temperatura entre 0,o2C e 0,28C até 2050, mas esta estimativa é contestada.
Aderente do Protocolo, a União Europeia estabeleceu metas próprias: 8% de redução face a 1990 em 2008-2012. Distribuídas as percentagens pelos países-membros, Portugal ficou com direito a aumentar (!) as suas emissão em 27% no mesmo período. Mas em 2002 já somava um aumento de cerca de 40%--o que torna quase impossível cumprir o objectivo— apesar do Plano Nacional das Alterações Climáticas agora revisto e aprovado, que inclui medidas algo difusas e pouco ambiciosas, embora úteis— redução de 2 dias para a circulação de táxis e uso do gás como combustível dos mesmos, eficiência energética dos edifícios segundo o Regulamento existente, taxa sobre lâmpadas incandescentes, redução do uso de fuelóleo nas centrais térmicas, mais carga fiscal sobre gasóleo de aquecimento, fomento do uso dos transportes colectivos, etc. Não se concretiza a intenção de condicionamento e portagens para o tráfego automóvel nas cidades, questão remetida para as autarquias.
O Fundo para o Carbono, criado na Lei, está descapitalizado porque não se avançou com as taxas sobre o consumo energético que o financiariam.
Em Portugal o nível de emissões de GEE passou de 60 milhões de toneladas de CO2 equivalentes em 1990 para 84,5 milhões em 2004— acréscimo de 41%.

O Protocolo de Quioto tem como pontos inovadores o comércio de emissões, a quantificação dos sumidoiros e das acções em prol destes para efeitos desse comércio e a transferência de tecnologia menos poluente dos países desenvolvidos para os mais atrasados.
A emergência de combustíveis que emitem menos e de veículos híbridos ou com motorização mais eficiente e as energias renováveis— eólica, solar, hídrica, geotérmica, biomassa, das ondas e das marés, etc., são a maior esperança para deter a dependência dos combustíveis fósseis.
Para além das tecnologias em torno do hidrogénio, ainda em fase algo incipiente. Mas é preciso dar prioridade à eficiência energética, já que uma enorme percentagem do consumo energético é inútil e constitui mero desperdício. Calcula-se que um esforço moderado de eficiência--nos transportes, nos edifícios, na indústria, etc, pouparia em Portugal uns 20% da energia consumida!
Ultimamente, estuda-se activamente formas de aprisionamento de gases de estufa— que poderiam ser retidos em casulos especiais, depósitos subterrâneos etc em vez de libertados para a atmosfera. Algumas dificuldades técnicas e de segurança precisam anda de ser vencidos antes que tais processos possam ser considerados em grande escala.
Num contexto de crise económica, com a nova liderança americana a dar sinais positivos neste sentido e a querer integrar-se nos esforços internacionais para debelar ou minimizar esta ameaça global, é a Cimeira de Copenhaga, em Dezembro próximo, que concentra todas as atenções. Daí deverá sair um novo acordo que substitua Quioto e – espera-se! — com objectivos bem mais claros e ambiciosos. Veremos. Mas o tempo urge!
Bernardino Guimarães

Sem comentários:

Enviar um comentário